Resumo
dos capítulos de Viagens na minha terra
Capítulo
1
Almeida
Garrett faz um relato sobre os motivos que o levaram a escrever esta obra. Faz
sua primeira citação
a outro escritor, Xavier de Maistre (Voyage autour de ma chambre)
dizendo que este viajou dentro
de seu quarto por morar à beira dos Alpes, mas que Garrett prefere dedicar seu
texto a uma extensão
mais longa e para tanto irá fazer uma viagem de Lisboa à Santarém da qual tudo
que for digno
de registro será relatado em sua obra. Conta que este era um desejo que foi
reforçado pela mexeriquice
feita em um jornal sobre esta viagem. Começa então a relatar os detalhes de sua
partida como
o horário e local da partida. Inclui um primeiro personagem chamado Sr. C. da
T. e outros não nomeados.
O navio parte e ele vai admirando as primeiras paisagens da ré do navio.
Entediado passa
para a proa para fumar um charuto. Encontra dois grupos que se enfrentam em uma
questão. Seriam
homens do norte disputando com os homens do sul quais eram os mais fortes.
Desfeita a dúvida
a viagem prossegue.
Capítulo
2
Começa
com uma grande digressão acerca da obra que se está escrevendo. Garrett
conversa com o leitor
inserindo-o na obra através da explicação do motivo nobre de sua obra. Segundo
o autor ele pretende
escrever sobre a marcha do Progresso Social. Para embasar sua opção ele busca
em D. Quixote
de Cervantes os princípios que entende que
regem a humanidade: o materialismo representado
por Sancho Pança e o espiritualismo representado por D. Quixote. Chegam ao
triste desembarcadouro
de Vila Nova da Rainha que segundo Garrett é o mais feio pedaço da terra onde pôs
seus pés. A descrição do local á pavorosa e o lado Sancho Pança de Garrett
sobressai sobre o seu
lado D. Quixote. Ele nos apresenta mais um companheiro de viagem de nome Sr.
L.S. que oferece
carona em sua carroça até o Azambuja. Cita Jeremias Bentham. Passam por Vila
Nova que recebe
mais críticas sobre o aspecto do lugar. Garrett critica o governo e relata que
para que as estradas
do país fossem boas os ministros deveriam viajar pelo menos uma vez por ano por
elas. Chegam
a Azambuja aonde vão se instalar em um local que serve de hotel, restaurante e
de café da terra.
Na porta Garrett vê uma mulher a quem ele chama de bruxa e assustado deixa a
pena cair de sua
mão.
Capítulo
3
Volta
a conversar com o leitor. Tenta mostrar que o leitor deveria esperar do autor.
Segue com mais uma
digressão. Compara a estalagem da Azambuja com a estalagem de Cervantes.
Critica os ricos perguntando
quantos miseráveis são necessários para que se tenha um homem rico. Cita Doutor Fausto
e Vitor Hugo e acaba a digressão citando Sheakespeare. Quando finalmente diz
que irá começar
a descrição da estalagem faz nova digressão. Afirma que a sociedade é
materialista como Sancho
Pança, mas a literatura que deveria ser sua representação é espiritualista como
D. Quixote. Começa
uma descrição falsa da estalagem. Cita Boileau para defender que a verdade é
mais importante
que a mentira. Fala sobre a mentira de Santo Antão e de São Pacômio que na
verdade eram
demônios. Finalmente relata que na estalagem havia apenas a velha que vira no
final do capítulo
anterior, uma jovem que era tão feia quanto à velha e um velho demente e
paralítico. Garrett reclama
da água, dos limões e do açúcar que são utilizados para fazer uma limonada que
os viajantes
bebem apesar do aspecto abominável. Caminham em direção ao pinhal da Azambuja.
Capítulo
4
Neste
capítulo Garrett defende uma proposição sua de que entre as qualidades prefere
a modéstia sobre
a inocência. Introduz um debate filosófico entre o poeta Dêmades que argumenta
ao contrário e o
filósofo Addison que formula o mesmo pensamento de Garrett. Para o autor a
utilização de erudição dará
a sua obra um status de grande obra com a qual ele pretende fazer sua
reputação. Antecipa-se as
críticas sobre o fato de Addison ter sido ministro de estado e demonstra que
não vê incompatibilidade
entre um grande erudito fazer parte da vida política. Em seguida faz uma grande digressão
sobre os efeitos que a modéstia causam sobre uma bela dama. Coloca ao leitor a
pergunta sobre
o que este assunto teria haver com a viagem e responde que esteve sonhando
acordado durante
o caminho entre a Azambuja e o Cartaxo. No final sugere que o leitor pule este
capítulo e siga
direto para o próximo.
Capítulo
5
Chegando
ao Pinhal da Azambuja frustra-se com o que vê. O que deveria ser uma floresta
nada mais é
que um local quase deserto. Faz alusões às imagens que fazia do Pinhal
colocando-o sempre como cenário
de grandes clássicos literários que necessitavam de uma floresta como fundo.
Explica como se
faz a literatura em seu tempo e alerta ao leitor que não espere outra coisa
desta obra senão um romance.
Apresenta uma fórmula de fazer um romance: Todos os romances precisam de: Uma
ou duas
damas; um pai; dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos; um criado velho;
um monstro, encarregado
de fazer maldades; vários tratantes, e de algumas pessoas capazes para
intermédios. Vai-se
aos figurinos franceses recorta as personagens e as cola em qualquer arranjo.
Vai-se às crônicas
tirando os nomes e palavrões velhos. E eis como se faz a literatura original. Busca
a referência clássica de Orfeu para explicar o sumiço do Pinhal. Cria a
alegoria de uma companhia
por ações criada por Orfeu fazendo alusão as grandes negociatas entre
banqueiros e o tesouro.
Fica sem o seu meio de locomoção e cita novamente Xavier de Maistre comparando
o momento
em que este autor cai em seu quarto no meio de uma de suas andanças. Resigna-se
que terá
que ir à Santarém no lombo de uma mula. A mulinha a trotar dá choitos que o
fazem lembrar de seu
amigo Marquês de F. que apreciava os choitos de sua carruagem.
Capítulo
6
Garrett
defende Camões dizendo que a solução encontrada para os Lusíadas foi misturar o
mitológico com
o cristianismo. Acha uma pena Camões ter existido antes do Romantismo. Faz uma
comparação entre
A divina comédia de Dante, Fausto de Goethe e Os lusíadas de
Camões. Segundo Garrett, Dante
tinha fé em Deus, Goethe no ceticismo e Camões na sua pátria. Faz uma defesa às
crenças e uma
grande digressão a respeito do romantismo fazendo paralelos entre os grandes
autores clássicos
e os primeiros grandes romancistas. Iguala-se a Camões ao dizer que se encontra
entalado sem
poder dar continuidade a sua obra. Propõem então fazer uma sensaboria indo
buscar respostas de
um ser já morto. Cita novamente Dante em sua Divina comédia enaltecendo
que tenha escrito uma
obra densa num momento inquisitivo. Mas não pretende descer ao inferno de Dante
e prefere procurar
o Marquês de Pombal nas ilhas aventuradas descritas pelo poeta Alceu. Encontra
com o Marquês
e pergunta a ele porquê mandou arrancar as vinhas do Ribatejo pois estas se multiplicaram
e atingiram o pinhal de Azambuja. Não obteve resposta. Volta a este mundo em
frente ao
grande café de Cartaxo.
Capítulo
7
O autor faz uma comparação entre os prazeres de chegar em um bom caleche ao Café Tortoni de Paris e sua chegada na mula ao café de Cartaxo. Critica os Lisboetas por não viajarem defendendo que só conhece o mundo aquele que viaja. Faz um relato do Café de Cartaxo e defende que através dos Cafés podemos apreender tudo sobre o país em que estamos. Conversa com o dono do Café que lhe diz que todas as notícias vêm de Lisboa. Conversam então sobre o mestre J.P, conhecido como o Alfageme. Discutem sobre o porquê chamam J.P. de Alfageme e fazem alusão ao Alfageme de Santarém. O dono do café explica que J.P falava bem ao povo, fez-se juiz e conquistou bom nome fazendo do povo o que bem quer. Os viajantes tomam uma limonada fazendo antes uma libação aos deuses. Vão ao encontro do velho D. que os encontra no caminho. Criticam os ingleses que abandonaram a aliança com Portugal. Citam que trocaram o bom vinho português pelo francês. Dizem que os ingleses não são nada sem o Porto ou Madeira portugueses. Citam que Cartaxo foi
O autor faz uma comparação entre os prazeres de chegar em um bom caleche ao Café Tortoni de Paris e sua chegada na mula ao café de Cartaxo. Critica os Lisboetas por não viajarem defendendo que só conhece o mundo aquele que viaja. Faz um relato do Café de Cartaxo e defende que através dos Cafés podemos apreender tudo sobre o país em que estamos. Conversa com o dono do Café que lhe diz que todas as notícias vêm de Lisboa. Conversam então sobre o mestre J.P, conhecido como o Alfageme. Discutem sobre o porquê chamam J.P. de Alfageme e fazem alusão ao Alfageme de Santarém. O dono do café explica que J.P falava bem ao povo, fez-se juiz e conquistou bom nome fazendo do povo o que bem quer. Os viajantes tomam uma limonada fazendo antes uma libação aos deuses. Vão ao encontro do velho D. que os encontra no caminho. Criticam os ingleses que abandonaram a aliança com Portugal. Citam que trocaram o bom vinho português pelo francês. Dizem que os ingleses não são nada sem o Porto ou Madeira portugueses. Citam que Cartaxo foi
importante
na história de Portugal sendo palco da guerra da sucessão abrigando o quartel
general do Marquês
de Saldanha. Criticam o governo liberal dizendo que não foi bom para a
indústria do vinho. O
autor não concorda com esta afirmação, mas diz que vai explicar futuramente o
motivo.
Capítulo
8
As
cinco da tarde eles seguem viagem. Chegam à charneca. O autor faz uma digressão
sobre as montanhas,
os bosques e os vales descrevendo imagens pictóricas e se diz apaixonado pela charneca.
Renega a hipótese de ser Romântico. Diz que tem vontade de fazer versos, mas é acordado
de sua letargia por um companheiro de viagem. Foi aqui, dizia ao autor. Este
ainda voltando
do transe pergunta o quê foi ali. O viajante lembra que naquele local foi feita
a última revista do
imperador D. Pedro. O autor lembra que ali fora feita a última revista ao
exército liberal. Que foi depois
da batalha de Almoster. O autor questiona os desígnios da guerra. Conta que
esteve no campo
de Waterloo, vinte anos depois da batalha, e ainda viu luzir os ossos das
vítimas da guerra. As reflexões
sobre as guerras fizeram mudar seu sentimento. Chegam à ponte da Asseca.
Capítulo
9
O
autor inicia este capítulo com uma grande digressão que ele chama de
dramático-literária. Cita uma lista
de peças de teatro escritas por Ênio Manuel de Figueiredo; O casamento da
cadeia, O fidalgo de sua
casa, O cioso, O Álvaro dissipador.
Mas para o autor a melhor obra intitula-se Poeta em anos de prosa.
Não pelo seu conteúdo, mas pelo seu título. Segundo o autor existem algumas
obras que não deveriam
ter título e alguns títulos que em si só já são uma grande obra. Cita como
grandes poetas de
seu século Bonaparte, Sílvio Pélico e o barão de Rotschild. O primeiro com a
espada o segundo com
a paciência e o terceiro com o dinheiro. Faz uma reflexão sobre o nome da ponte
de Asseca. Cita
que neste local Junot foi ferido na cara. Lembra que a primeira notabilidade
que conheceu foi Bonaparte
e se diz jacobino desde pequeno. Conta que por suas idéias liberais sofre
perseguição e foi
pedir asilo à França. Através de seu amigo C. do S. é apresentado a Madame de
Abrantes. Era uma
senhorita já de idade mas que deixou-o encantado. Conversaram sobre vários
assuntos. O autor conversa
novamente com o leitor desculpando-se por suas digressões. Coloca-nos novamente
na
ponte
de Asseca e chega agora ao vale do Santarém. Pátria dos rouxinóis e das
madressilvas.
Capítulo 10
O
autor faz uma descrição do vale de Santarém falando sobre a sua beleza
imaginando ali um jardim do
Éden onde só há lugar para o amor e harmonia. A descrição é de um quadro
bucólico onde se vê por
entre as árvores a janela de uma casa pela qual o autor se interessa. Começa
uma digressão sobre
quem moraria naquela casa e que belo romance daria. Diz que se fosse homem
seria poeta e se
fosse mulher estaria apaixonada. Estabelece uma relação entre estas duas
possibilidades
aludindo
que o poeta é como uma mulher apaixonada. Vê um rouxinol cantar ao pé da janela
seguido de
mais outro. Pensa então como seria a mulher que viveria naquela casa, se seus
olhos eram pretos.
É interrompido por um companheiro de viagem que relata que realmente habitou
ali uma moça,
mas que os olhos eram verdes. E que ali se desenvolveu um belo romance. Que
vivera ali uma
moça que ficou conhecida como a menina dos rouxinóis, mas que já havia morrido
e que já havia
passado 10 anos. O autor pede então que se conte a história que ele irá narrar.
Chama de um
épico
e fica apreensivo de contar, pois segundo dizem, os portugueses não são bons
romancistas. Mas
alerta as suas leitoras que não vai narrar um romance e sim uma estória
simples. Finda o capítulo
com esta digressão.
Capítulo
11
O
autor inicia o capítulo com mais uma grande digressão agora sobre os poetas e
filósofos. Segundo o
autor a grande virtude dos poetas é viverem apaixonados, o que os filósofos
tentaram lhes tirar em vão.
Também os Romancistas apresentam esta virtude e, segundo o autor, se não
estiver apaixonado não
deve escrever, pois sua obra será maçante. Cita Yorick de Sheakespeare que se
dizia viver sempre
apaixonado. Questiona como ele mesmo poderá escrever um romance se lhe resta no
mundo apenas
uma esperança e uma saudade, um filho no berço e uma mulher na cova. Pede a
opinião de
suas
leitoras. Conversa com elas. Fala de uma visão que teve um mês antes e se diz
habilitado para ser
cronista da história. Começa
a história. Era o ano de 1832 estava uma velhinha com mais de setenta anos
sentada a porta
da casa. Estava sentada em uma cadeira em frente a uma dobadoira enrolando um
novelo de fio.
O movimento da dobadoira era constante e lento. A velha tinha seus olhos
voltados para o horizonte.
A meada engatou fazendo o trabalho parar. Ela então chamou para dentro da casa
pelo nome
de Joaninha. Era sua neta. Ficamos sabendo que a velha é cega.
Capítulo 12
Joaninha
ajuda a avó a desenrolar a meada e oferece-lhe um lanche. As duas lancham e
ficam paradas.
As duas estão tristes. O autor faz uma longa descrição de Joaninha. Ela contava
então com 16
anos e não era muito bonita, mas uma moça de muitos bons sentimentos capaz de
fazer um homem
muito feliz. Tinha os olhos verdes que encantaram o narrador que diz ser mais
devoto dos olhos
pretos e também admirar os olhos azuis. Mas os olhos verdes de Joaninha são de
uma beleza nunca
vista por ele. A velha percebendo-se triste pede a Joaninha que lhe coloque o
novelo na mão para
que ela se ocupe de algo para espantar a tristeza. A velha nota que Joaninha
estava chorando e aconselha
que deixe a tristeza para ela que já viveu e sofreu bastante. Joaninha quer
conversar mais com
a avó, mas elas percebem que alguém está se aproximando da casa. Era Frei Dinis
o austero guardião
de S. Francisco de Santarém.
Capítulo
13
O
autor relata que pessoalmente é contra os Frades. Mas que poeticamente eles são
importantes.
Faz
uma reflexão entre o Frade e o Barão relacionando o primeiro a D. Quixote e o
segundo a
Sancho
Pança. Faz várias críticas ao Barão comparando-o ao asno. Diz que os Frades não
entenderam
o seu século e nem o século os entendeu e que os Barões acabaram com os Frades
e
pergunta
quem irá agora acabar com os Barões. Fala das perdas para o progresso e
questiona o
silêncio
que só é quebrado pelos gritos dos Barões contando dinheiro. Critica as
universidades. O
autor
nos informa que este capítulo deve ser considerado como introdução do próximo
capítulo em
que
entra em cena Frei Dinis. Faz uma lista dos vários frades que utilizou em
outras obras suas. Cita
as
obras Camões, Dona Branca, Adosinda, Gil Vicente, Frei
Luís de Souza, e Arco de Santana, todas
de
sua lavra. Justifica-se alegando que em tudo que ocorre em Portugal desde o
início de sua história
até
mil oitocentos e trinta e tantos não houve coisa pública ou particular em que
um frade não
estivesse
envolvido. Para fugir do uso do Frade sugere que se use a receita de fazer
romance que
ele
apresentou no capítulo 5, mas alega que ele não sabe fazer daquela forma.
Capítulo
14
No
início do capítulo, o autor promete que não haverá divagações. Frei Dinis chega
junto as duas
mulheres
e as abençoa. Frei Dinis repreende a velha, que agora ficamos sabendo que se
chama
Francisca,
por suas queixas. Sustenta que virou frade por vontade própria, jurando diante
da igreja, e
que
a Irmã Francisca não precisaria vestir o hábito por ter feito o juramento
apenas diante de Deus.
Irmã
Francisca pergunta sobre o neto. O frade pede que Joaninha entre na casa. Conta
para
Francisca
que o seu neto está na companhia dos liberais que vieram das ilhas e
desembarcaram no
Porto.
A avó se desespera ante a possibilidade de não ver mais o neto. Frei Dinis diz
que não vê mais
nenhuma
possibilidade de conciliação entre os liberais e os absolutistas. Segundo ele,
o jovem passa
a
ser seu inimigo e ele prevê a vitória dos liberais. Diz que os absolutistas
estão cheios de pecados e
que
a misericórdia de Deus está esgotada para os que não crêem nele. Vê que o neto
de Francisca é
41
seu
inimigo e chama-o de maldito e de filho ingrato. Francisca se desespera diante
destas palavras,
pede
a Deus que não ouça as palavras do Frei e cai prostrada no chão. O frei em sua
rigidez chama
Joaninha
para cuidar de sua avó e vai embora.
Capítulo
15
O
autor inicia o capítulo com uma pergunta. Quem era o Frei Dinis? Um homem que
se fizera frade
depois
de certa idade e num momento em que os frades já não tinham valor. Homem de
princípios
austeros,
crenças rígidas e lógica inflexível e teimosa. Achava absurdas as teorias dos
liberais e
entendia
que a única lei necessária para a humanidade era o Decálogo e que o Evangelho
bastaria
como
única constituição. Acreditava que o poder do homem sobre o homem era usurpação
e que
todo
poder estava em Deus. Dizia que o liberalismo dividia-se em duas coisas;
duvidar e destruir por
princípio,
adquirir e enriquecer por fim. Que seria liberal se os liberais entendessem que
a igualdade e
a
liberdade só se conseguem seguindo os preceitos da religião. Os sistemas
monásticos eram seu
sistema
e que sem a rigidez e o controle a sociedade precipitar-se-ia a um materialismo
estúpido e ao
individualismo
egoísta que a levariam a seu fim. Tornou-se frade aos cinqüenta anos. E apesar
da
rigidez
algo o prendia ao mundo exterior. Ele deixava todas as sextas o convento para
ir ao encontro
da
Irmã Francisca e de Joaninha. O rapaz que habitava àquela casa fazia dois anos
que se afastara.
Capítulo
16
Diz-se
que a vida do claustro era monótona e singela e passa-se então a falar da vida
do frei Dinis
antes
dele ter abraçado a causa religiosa. Chamava-se Dinis de Ataíde, foi da
carreira das armas e
das
letras, lutou na guerra Peninsular. Abandonou a vida militar para tornar-se
corregedor do Ribatejo
em
1825. Seria reconduzido ao Porto e foi a Lisboa receber o seu despacho, beijou
a mão à el-Rei, e
tomou
o caminho de Santarém. Foi ao convento de S. Francisco e não se soube mais dele
durante
dois
anos quando apareceu então como Frei Dinis da Cruz. Escolheu a ordem de S.
Francisco por ser
a
mais desacreditada entre tantas outras, assim teria uma penitência maior. De
todos os seus bens
separou
apenas o necessário para o dote para entrar para o convento e doou todos o
resto para D.
Francisca
Joana. A família de D. Francisca era apenas sua neta e seu neto. Quando os seus
filhos
ainda
eram vivos o então corregedor Dinis de Ataíde freqüentava sua casa. Foi após a
morte do seu
filho
e genro que ocorreu em um naufrágio que ele nunca mais havia voltado àquela
casa. E no
mesmo
momento em que se tornou Frei, D. Francisca vestiu uma túnica roxa que nunca
mais largou.
Mas
um dia Frei Dinis voltou a visitar a casa de D. Francisca. A filha e nora já
haviam morrido e ela
estava
apenas com os netos. Ela e Frei Dinis conversaram por longas horas. Era uma
sexta-feira e a
partir
dali todas as sextas-feiras Frei Dinis voltava a visitá-los. Não se intrometia
na educação de
Joaninha,
mas sempre se mostrou preocupado com Carlos. Queria saber tudo sobre ele e
fazia
recomendações
a avó. Nos meados de 1830, Carlos que se formara havia voltado de Lisboa. Era
uma
sexta-feira e ele encontrou com o Frei Dinis que lhe fez algumas reprimendas.
Carlos então
discutiu
com o Frei dizendo que estava indo embora por não aceitar a intromissão dele na
casa de
sua
avó. Reforçou que sabia que havia algo de muito errado que ocorrera no passado.
Frei Dinis
mostrou-se
preocupado sobre esta possibilidade. Carlos contou suas intenções para a avó
explicando
que
estava envolvido com a causa liberal e que teria que emigrar, pois já havia
demonstrado sua
opção
em Coimbra e Lisboa. Partiu no dia seguinte para Inglaterra onde passou alguns
meses e
depois
se transferiu para a ilha Terceira. Na sexta-feira seguinte à partida de
Carlos, Frei Dinis veio a
casa.
Depois de uma longa conversa com D. Francisca ela chorou, trancada no quarto,
por três dias
seguidos.
No final do terceiro dia ficou cega. Joaninha nunca mais sorriu para o frade.
Frei Dinis
envelheceu
dez anos naquele dia. A partir daquele dia todos os dias foram tristes naquela
casa.
Passaram-se
então dois anos até a cena em que a história se iniciou como vimos no capítulo
11.
Capítulo
17
Passaram-se
mais oito dias. D. Francisca e Joaninha estavam ansiosas a espera do frade para
saber
notícias
de Carlos. As duas aguardavam que o frei surgisse pelo mesmo caminho que o
trazia de
Santarém
todas as sextas-feiras. Mas sem notar chegou-lhes o Frei da direção de Lisboa
assustando
as
duas. D. Francisca perguntou-lhe de onde vinha tão tarde e ele respondeu que
fora a Lisboa saber
notícias
sobre a guerra. D. Francisca ficou apreensiva sobre notícias de Carlos, pois
ouviram muitos
42
rumores
de momentos sanguinários da guerra. D. Francisca suplica ao Frei Dinis, pois
pressente que
uma
tragédia possa ter acontecido a Carlos. Frei Dinis irrita-se e blasfema contra
Carlos dizendo que
não
se importa com o que aconteça com ele. Mas em seu íntimo ele sente a mesma
preocupação de
D.
Francisca. Após uma discussão entre os dois passam-se longos minutos sem que
nada se diga até
que
Frei Dinis entrega a Joaninha uma carta que fora enviada por Carlos através do
cônsul da
França.
Capítulo
18
Após
entregar a carta a Joaninha o frade se despede dizendo que voltará na próxima
semana para
saber
a resposta. D. Francisca pede para que ele fique para escutar o conteúdo da
carta. Ele reluta,
mas
acaba ficando. Joaninha lê a carta apenas com os olhos. A avó pede que ela leia
em voz alta
para
que ela e o frei ouçam. Joaninha explica que a carta diz respeito apenas a ela.
A avó pede que
leia
assim mesmo. Carlos fala realmente apenas a Joaninha dizendo das suas saudades,
de seu
amor
fraterno pela prima e da pouca esperança no futuro. Joaninha leu a carta
enxertando no final
um
pedido de benção à avó. D. Francisca abençoa Carlos. Joaninha fica corada por
ter mentido, mas
nota
que Frei Dinis aprovou sua atitude de compaixão para com a avó. Frei Dinis foi
embora para
Santarém.
As duas se abraçaram chorando sem falar nada sobre a carta. A avó havia notado
a
fraude
de Joaninha. Na semana seguinte frei Dinis voltou e encaminhou a carta de
resposta a Carlos.
Soube-se
que ela chegou ao destinatário, mas semanas, meses, se passaram e não chegou
mais
nenhuma
carta. A guerra evoluiu os liberais haviam tomado Lisboa e os absolutistas
tentavam
retomar
a capital. Frei Dinis chega ao vale. D. Francisca estava só. Perguntou notícias
ao frade. Frei
Dinis
conta que estava difícil conseguir notícias de Lisboa, pois as tropas
absolutistas cercavam a
cidade.
D. Francisca roga que a vitória esteja do lado daqueles que estiverem com a
razão. Frei Dinis
alega
que os dois lados estão errados. Ela pede então que vença o Carlos. Frei Dinis
diz que se
Carlos
for vitorioso virá para destruir seu convento e que ele estará lá para
defendê-lo cabendo a
Carlos
a obrigação de matá-lo. D. Francisca defende Carlos dizendo que o neto não
seria capaz de
tal
feito. Frei Dinis alega que Carlos o odeia e que ele sabe do seu passado. D.
Francisca garante
que
Carlos sabe apenas meia verdade sobre o passado, mas que assim que ela o
encontrar irá
contar-lhe
tudo. Frei Dinis ameaça de amaldiçoá-la caso ela cumpra o prometido, pois
Carlos
passaria
a desprezá-los.
Capítulo
19
Joaninha
surge sobressaltada gritando para a avó que vinham muitos homens e mulheres, soldados
e
povo. Era a retirada de 11 de outubro. Frei Dinis diz que já pressentia que os
constitucionais
venceriam
a guerra. Alguns feridos ficaram na casa de D. Francisca para serem tratados.
D. Miguel
seguiu
para Santarém e os constitucionais montaram seu quartel-general no Cartaxo.
Estabelecidos
os
exércitos Frei Dinis ficou preocupado de deixar D. Francisca e Joaninha a mercê
do exército. Quis
levá-las
a Santarém. D. Francisca insistiu que não sairia de sua casa e se preciso
morreria ali. Frei
Dinis
entendeu que ela alimentava a esperança que Carlos voltasse e não insistiu em
levá-las, pois
internamente
nutria a mesma esperança. Joaninha ganhou o respeito e o carinho dos soldados.
Não
se
ouviu mais notícias de Carlos. Passaram-se meses. A guerra parecia ter
arrefecido. Os soldados
das
duas vertentes já se conheciam e trocavam opiniões sobre o país. Joaninha
também se
acostumou.
Acompanhava os toques de alvorada e de retretas de sua janela. Aquela janela
que
chamou
a atenção do autor nos capítulo 10. Era acompanhada dos rouxinóis que cantavam
ao pé da
janela.
Os soldados a apelidaram de menina dos rouxinóis. Ela passou a circular
livremente entre os
dois
exércitos. Costumava passear por entre um grupo de álamos e oliveiras que
ficavam mais ao sul
perto
de onde se postavam as sentinelas dos constitucionais. Um dia ela adormeceu
entre as árvores.
Era
tarde e os soldados estavam sendo postos em sentinela por um novo oficial que
chegara de
Lisboa
como reforço. Ao avistarem Joaninha o oficial pediu cuidado aos soldados que
logo
reconheceram
a moça. Um dos soldados mais antigos falou que se tratava da menina dos
rouxinóis.
O
oficial quis saber mais sobre a moça e foi-lhe mostrada a janela da casa onde
ela morava. O oficial
ordenou
que todos se afastassem e se aproximou da moça.
43
Capítulo
20
Joaninha
dorme e junto dela está um rouxinol. O oficial se aproxima. O autor conversa
com as leitoras
e
antecipa que elas querem saber mais sobre este oficial. Reforça que este é um
dever do
romancista.
Faz um relato sobre o oficial dizendo que ele tem aproximadamente 30 anos.
Chegou
perto
da moça e reconheceu nela Joaninha apesar de achá-la diferente. Beijou-lhe a
mão fazendo-a
acordar.
Joaninha reconheceu que era Carlos. Falou que sonhara que ele havia morrido.
Fica muito
feliz
em vê-lo. Carlos pergunta se ela estava realmente sonhando com ele. Joaninha
responde que
sempre
sonha com ele. Abraçaram-se e beijaram-se. Joaninha não se continha de tanta
felicidade.
Falava
sem parar. Voltou a dizer que sonhara com a morte de Carlos. Ela e a avó. Cai
em si e
pergunta
como os dois estão sozinhos ali naquela hora. Preocupa-se com o que os outros
falariam se
os
vissem sós. Lembra de levar Carlos à avó. Pensa em ir à frente para prepará-la,
lembra então que
ela
está cega. Carlos se assusta, pois não sabia da cegueira da avó. Joaninha
começa a relatar como
ocorreu,
mas resolve deixar para falar depois. Pega Carlos pela mão para levá-lo para
casa.
Capítulo
21
Os
dois estavam tão felizes do reencontro que se esqueceram que estavam no meio de
uma guerra.
Foram
lembrados pelo brado das sentinelas que ao verem os vultos perguntaram: quem
vem lá?
Carlos
abraçou Joaninha e lembro-lhe que a guerra os afastava. As sentinelas
perguntaram
novamente
agora engatilhando suas armas. Joaninha sentindo o perigo pede a Carlos que se
apresente
as suas sentinelas. Ele fica preocupado com ela, mas Joaninha o tranqüiliza
dizendo que é
bem
quista pelas sentinelas absolutistas. Ela se apresenta e os soldados sentem-se
aliviados e
sorriem
por ser a menina dos rouxinóis que se apresentava. Joaninha despede-se de
Carlos e pede
para
que se encontrem no dia seguinte. Carlos pede para que ela não conte para sua
avó que esteve
com
ele. Joaninha afastou-se em direção a casa. Carlos ficou observando-a. As
sentinelas
constitucionais
atiraram nele. Ele apresentou-se. Joaninha ouvindo o tiro perguntou o que
acontecera.
Carlos
disse que não fora nada e que estava tudo bem. Não culpou os seus soldados,
pois eles
estavam
obedecendo ordens, ele é que havia errado em não se apresentar. Os soldados ao
ouvirem
o
grito de Joaninha fizeram o comentário que o capitão nem bem chegara e já
estava as voltas com
mulheres.
Um dos soldados explicou que Carlos era dali e que a moça era sua prima, a
menina dos
rouxinóis.
Fizeram uma relação das mulheres com quem o capitão estivera dizendo que todas
eram
loucas.
Ficaram na dúvida se era prima ou irmã. Alguém lembrou que existia um frade
ligado à
família.
Um dos soldados disse que quase atirou no frade. Outro lembra que quase mataram
o
capitão
e que se o frade fosse pai ou tio do capitão poderiam ter causado um problema.
Capítulo
22
Joaninha
envia uma carta a Carlos onde conta que manteve o acordo de não contar à avó
que
estivera
com Carlos. A avó estava muito adoentada e, para aliviá-la, Joaninha disse que
recebeu
notícias
que Carlos estava bem. Pede a Carlos que não adie por muito tempo o encontro
com a avó,
pois
teme pela sua saúde. Marca um novo encontro no mesmo local. Carlos havia
passado a noite
apreensivo.
Pensava no quanto ele lembrava de Joaninha e a vontade de vê-la novamente, mas
a
imagem
que tinha da prima era de uma menina e não de uma mulher. A sensação que Carlos
sentiu
ao
ver joaninha foi nova não sabendo explicar se era amor. Mas ele já havia amado
outras vezes e
ainda
mantinha uma relação de amor com uma outra mulher da qual guardava um talismã.
Carlos
estava
confuso entre os sentimentos que nutria pelas duas mulheres. O autor interrompe
para nos dar
sua
versão dos fatos. Segundo ele Carlos estaria apaixonado por Joaninha apesar de
estar também
apaixonado
por esta outra mulher. O autor nos adianta que o nome desta outra mulher é
Georgina e
que
falará dela mais tarde. Pede que as leitoras perdoem Carlos pelas suas dúvidas.
Carlos havia
passado
a noite em claro abalado pela reação que teve ao abraçar e beijar Joaninha. Mas
de manhã
ele
já havia pensado o suficiente para sentir confiança no amor que sentia por
Geogina. Pretende
encontrar
com Joaninha no horário e local marcados.
44
Capítulo
23
O
dia custa a passar e Carlos começa a refletir novamente. Todas as ponderações
da noite lhe
voltaram
ao pensamento. Para o autor, os tormentos causados pelo pensamento, fazendo com
que a
pessoa
sonhe acordada, é tratada pela ciência como nervosismo, para o romantismo
sensibilidade e
para
o conhecimento popular de loucura. Carlos tinha tudo isso. Entre os pensamentos
de Carlos
estava
agora a imagem de sua avó. Ele lembrou que Joaninha havia dito que ela estava
cega e que
havia
um mistério por trás deste fato. Carlos pensa também em Frei Dinis que ele
considera um peso
na
vida da avó. Pondera se Joaninha sabe alguma coisa sobre o passado da avó e de
frei Dinis. Ele
lembra
que foi sua certeza de que um crime fora cometido pelos dois que o fizeram sair
de casa. Fica
imaginando
se Joaninha sabe o mesmo que ele. Pensa em desfazer qualquer pensamento neste
sentido
mesmo que tenha que mentir para Joaninha. Pensa em não mais ver a avó. Procurou
se
ocupar
de afazeres militares para acalmar o espírito. Mas o dia era longo e voltou a
pensar. Pensou
agora
nas mulheres que amava. Em uma visão nebulosa ora apareciam os olhos de
Soledade, ora de
Georgina
e ora de Joaninha. Pensou em dizer a verdade para Joaninha. O autor aparece
novamente
para
nos dizer que Carlos era poeta e introduz um poema que não segue os padrões
formais rígidos
da
poética. Apresenta um longo poema onde o tema principal é a cor dos olhos dos
amores de
Carlos.
O autor nos diz que não se formulam em palavras os pensamentos poéticos e que
coube a
ele
fazer uma fotografia mental de Carlos para apresentar o poema. Faz uma nova
digressão sobre
os
poetas criticando a escola clássica.
Capítulo
24
O
autor fala dos homens tendo Adão como o modelo da criação. Fala de seus desvios
que o fizeram
ser
expulso do paraíso. Critica a sociedade criada pelo homem que o torna um ser
vil. Cita Carlos
como
um homem bom, muito parecido com Adão, mas que como todo homem tem os seus
defeitos.
Carlos
estava quase como os demais homens, ainda era bom e verdadeiro no primeiro
impulso mas
a
reflexão o descia a vulgaridade da fraqueza, da hipocrisia e da mentira comum.
Era um homem
como
os outros homens. Cheio de dúvidas e incertezas foi ao encontro de Joaninha.
Ela notou que
Carlos
estava diferente do dia anterior. Joaninha elogia a beleza de Carlos e diz que
já o via assim
em
seus sonhos. Carlos ao contrário sonhava com Joaninha sempre menina risonha e
brincalhona.
Joaninha
lhe disse que nunca mais sorrira depois de sua partida e que naquele vale a
tristeza tomara
conta.
Disse que não gosta de Frei Dinis, mas que acredita que ele nutre um carinho
por sua família.
Principalmente
por Carlos que trata como um filho. Carlos alega que ele precisa do perdão de
Deus.
Joaninha
concorda que ele tenha sobre si um grande pecado. Carlos se impressiona com a
alegação
de
Joaninha e quer saber que pecado é esse que Joaninha conhece. Ela relata então
que foi Frei
Dinis
o responsável pela cegueira da avó. Que ele a culpava por Carlos ter se desviado
do caminho
da
religião. Ela diz que Frei Dinis sufoca sua avó com seu Deus de terrores, que
Frei Dinis vê pecado
em
tudo. Carlos fica aliviado, pois vê que Joaninha não sabe a verdade sobre o
pecado que ele
imagina
saber sobre o Frei Dinis e sua avó. Joaninha conta que o Frei continua
visitando sua casa
todas
as sextas-feiras e que no dia seguinte será sexta-feira e que, portanto eles
não poderão se ver.
Ela
cobra de Carlos uma data para ele encontrar com a avó. Carlos alega que por
motivos da guerra
ele
não pode se aproximar da casa. Joaninha conta que é bem quista pelo comandante
do exército
absolutista
e que ele sabe que ela está se encontrando com um parente. Carlos pergunta
sobre a
idade
deste comandante. Joaninha pergunta se ele está bravo. Diz que quando ele
franze a testa fica
parecido
com Frei Dinis. Carlos beijou a mão de Joaninha e os dois ficaram com os olhos
marejados.
Capítulo
25
Carlos
e Joaninha ficaram por longo tempo de mãos dadas olhando-se sem nada dizer um
ao outro.
Enfim,
Joaninha falou novamente que no dia seguinte o Frei viria. Carlos pediu para
que a prima não
contasse
nada a Frei Dinis. Joaninha garantiu que não falaria nada mas insistiu em saber
quando
poderia
falar com a avó. Carlos deu a desculpa que precisaria de ordens de Lisboa para
não incorrer
em
crime de guerra. Disse também que não sabia quantos dias precisaria. Joaninha
pediu para
encontrá-lo
todos os dias, excetuando-se as sextas-feiras, dias de visita do Frei. Carlos
jurou que a
veria
todos os dias; Joaninha insistiu perguntando se não havia nada que os impedisse
de se
encontrar.
Carlos hesitou por um momento dizendo que havia apenas um motivo, mas não quis
dizer
qual.
Joaninha insistiu e Carlos respondeu que seria se o seu comando o proibisse.
Joaninha não
45
acreditou
na desculpa de Carlos. Joaninha confessa a Carlos que o ama. Carlos por um
momento
pensou
em abraçá-la, mas freou seu impulso. Trocaram juras de amor. Carlos perguntou
se Joaninha
estava
certa sobre o seu sentimento. Ela reafirmou e disse que já havia contado à avó
seu amor por
Carlos
e que a avó havia ficado muito feliz. Despediram-se. Carlos disse que falaria
no próximo
encontro.
Joaninha suspeitou que Carlos não a amava e que seu coração estava destinado à
outra
mulher.
Ao se despedirem Carlos perguntou se Joaninha acreditava que ele pudesse
enganá-la. Ela
respondeu
que não. Os dois foram cada qual para o seu lado. A partir daquele dia os dois
eram
outros.
Capítulo
26
O
autor diz que se for a Roma pretende levar consigo um livro de Tito Lívio e de
Tácito. Que estando
sentado
ali poderia entender melhor a história escrita por estes grandes autores.
Sugere ao leitor que
pegue
suas crônicas e vá a Santarém e leia diante dos monumentos a história contada
por ele.
Relata
que faz isso com freqüência que só entendeu Sheakespeare quando o leu em
Warwick ao pé
do
Avon, debaixo de um carvalho secular. Relata o caso de um inglês que chegou a
Paris e foi
conferir
no túmulo de Heloísa e Abelardo e lendo as cartas de Paracleto sentiu-se o
próprio Abelardo
e
saiu gritando por um cônego que lhe acudisse. Diz que não chega a se
impressionar tanto quanto o
referido
leitor. Lembra de uma outra passagem em que estando em seu quarto pôs-se a ler Os
lusíadas
de Camões. De sua janela pode ver o Tejo e
passou a se sentir na Portugal que ele entende
como
a verdadeira Portugal. Pergunta-se então o que esta digressão tem a ver com a
sua obra e
defende
que tem tudo. Defende que se lermos uma obra no local que a inspirou vamos
entender
melhor
esta obra. Diz que foi importante ter ficado no vale a ouvir e relatar a
história da menina dos
rouxinóis,
mas que agora vão continuar viagem para Santarém. E nos avisa que a história de
Joaninha
não terminou, mas que haverá uma mudança de cenário para Santarém.
Capítulo
27
Ao
final do dia chegam a calçada que leva ao alto de Santarém. Fala sobre os
olivais de Santarém e
a
sua importância histórica. O autor diz-se feliz por ainda encontrar ali os
olivais que apesar de
estragados
como tudo que viu ainda é um monumento. Chegam a entrada da Vila. Vários
monumentos
são vistos. Mas a cidade parece abandonada. Começa a enumerar os monumentos. À
esquerda
o convento do Sitio de Jesus, o das Donas, o de S. Domingos onde jazem os
restos de S.
Frei
Gil tido como o Fausto português por ter sido bruxo. Defronte está o mosteiro
das claras. Ao pé
estão
as baixas arcadas góticas de S. Francisco de cujo último guardião foi Frei
Dinis. À direita o
Colégio
Jesuíta de arquitetura filipina. O autor chama a atenção para a disposição dos
edifícios que
foram
construídos para mostrar o poder que era exercido em cada momento da história.
Por isso
estão
frente a frente monumentos de religiões diferentes. Entram nos muros de
Santarém. As igrejas,
as
muralhas e algumas casas mantém a fisionomia antiga mas as demais casas apesar
de velhas
perdem
a relação com a sua origem. Seguem com destino a Alcáçova. Na ponta da antiga
cidadela
uma
confusão de entulhos e caliça e a falta de uma estrada vão dificultar o caminho
da casa do
amigo
dos viajantes.
Capítulo
28
Depois
de muito procurar pela Igreja de Santa Maria de Alcáçova e diante do estado em
que se
encontram,
os viajantes não se conformam com o que vêem. A igreja havia passado por várias
reformas
estando totalmente descaracterizada o que irrita o autor que critica a forma
com que os
monumentos
são descaracterizados. Critica o Marquês de Pombal responsabilizando-o por ter
adotado
o estilo de Luiz XV. Encontram a entrada e são recebidos pelo Sr. M. P.. Fazem
as abluções
e
vão jantar. Conversam sobre política, literatura, Santarém e as suas ruínas e
depois vão dormir. Ao
acordar,
o autor vai a janela de seu quarto e encanta-se com a vista. Faz uma descrição
da paisagem
como
se pinta um quadro. Recorda-se dos versos da introdução do Fausto de
Goethe. Apresenta
alguns
versos e diz não se atrever a continuar com a sua tradução por achar que a
língua portuguesa
não
dá conta de traduzir a língua alemã.
46
Capítulo
29
Um
pensamento sobre o sonhar acordado e o fazer poético. O autor faz uma comparação
entre os
escritores
que produziam pelo sentimento e os que escreviam pela imaginação. Aos primeiros
a
morte
chegou cedo, pois segundo o autor o sentimento desgasta a vida. Aos que
trabalham com a
imaginação
não existe este desgaste e, portanto eles viveram por mais tempo. Aos primeiros
ele cita
Byron,
Schiller, Camões e Tasso. No segundo grupo estão Homero, Goethe, Sófocles e
Voltaire. O
autor
explica que escreve aquilo que pensa e aquilo que sente. Questiona se o leitor
esperava outra
coisa
dele e já se desculpa por não ter feito uma obra de viagem. Caso os leitores
esperassem dele
uma
descrição marco a marco as léguas da estrada, palmo a palmo a altura dos
edifícios, algarismos
por
algarismos as datas da sua fundação, sugere que procurem ao Padre de
Vasconcelos que nele
encontrarão
o que procuram. Ressente-se apenas por não ser bom desenhista, pois acha que
seria
mais
fácil descrever a viagem através dos traços de que pela literatura. Para ele
Santarém é um
grande
livro de pedra. Que os monumentos contam sua história, mas que infelizmente o
povo e o
governo
vem destruindo esta história. Ouve chamarem para o almoço. A conversa durante o
almoço é
Santarém
e os vultos que ali estiveram. D. Afonso Henriques, S. Frei Gil, o Alfageme,
el-rei D.
Fernando
e Rainha D. Leonor, Camões, Frei Luís de Sousa, Pedro Álvares Cabral , os
Docems,
grandes
figuras da historia de Portugal. Também falaram de Santa Iria. O autor lembrou
que existem
duas
versões para a história de Santa Iria, uma de cunho popular e outra monástica.
Ele termina o
capítulo
contando a versão popular.
Capítulo
30
O
autor nos faz saber que Santa Iria, também Santa Irene, é que originou o nome
de Santarém.
Donzela,
natural da Nabância era freira no convento beneditino. Enamorou-se por ela
Britaldo, filho
do
cônsul Cristinaldo que governava a Nabância. Ela não lhe retribuía o amor e
como Santa não
podendo
ver-lhe sofrer foi a seu encontro e o curou. Mas o monge Remígio também se
encantou por
Iria
e não sendo também correspondido resolver se vingar. Deu a ela uma poção que
fez com que os
sintomas
de uma gravidez aparecessem. Britaldo sentiu-se traído e mandou matá-la. Seu
corpo foi
jogado
no rio e seguiu até as margens do Tejo onde foi sepultado. Tendo o Abade do
convento uma
revelação
de toda a verdade, comunicou ao povo da Nabância. Foram todos ao rio. Chegando
ao
local
do túmulo benzeram o rio que se abriu para que eles pudessem alcançar o corpo.
Mas como
não
puderam tirá-lo dali entendeu-se que se tratava de um milagre e todos voltaram
a sua terra. As
águas
tornaram-se a juntar e só se abriram novamente seis séculos e meio depois
quando a Rainha
Santa
Izabel, mulher del-rei D. Dinis fez tão fervorosa oração. Entraram o Rei e a
Rainha no rio, mas
por
mais esforço que fizessem não conseguiram abrir o túmulo. O rei então ordenou
que se erguesse
um
padrão tão alto que cheia alguma o cobrisse. Passados mais três séculos e meio,
a Câmara de
Santarém
mandou refazer o dito marco e colocar sobre ele uma estátua da Santa Iria. Esta
é a
história
contada pelos frades. O autor reconta a história popular que ele já havia
reproduzido a letra
da
cantiga no final do capítulo anterior. A Santa está em casa de seus pais: um
cavalheiro
desconhecido,
a quem dão pousada uma noite, levanta-se por horas mortas, rouba a descuidada e
inocente
donzela, foge a todo o correr de seu cavalo, e chegando a um descampado dali
muito longe,
pretende
fazer-lhe violência... A santa resiste, ele mata-a. Dali a anos passa por ai o
indigno
cavaleiro,
vê uma linda ermida levantada no próprio sítio onde cometeu o crime, pergunta
de que
santa
é, dizem-lhe que é Santa Iria. Ele cai de joelhos a pedir perdão à santa, que
lhe lança em rosto
o
seu pecado e o amaldiçoa. Assim termina a história. O autor questiona qual
seria a história mais
correta.
Se o povo reduziu a uma história mais simples ou se foram os monges que a
aumentaram
em
suas escrituras. O autor faz ainda algumas considerações sobre a estrutura
formal da cantiga,
versão
popular da história.
Capitulo
31
Passado
das dez horas da manhã, os viajantes saíram para visitar a cidade. O autor
novamente nos
lembra
que a história está escrita nas ruínas e monumentos. Passam pela Igreja de
Alcáçoba que se
encontra
fechada. Seguem pela esquerda onde vêem portas e janelas que o autor identifica
como
estilo
moçarabe e que não combinam com as edificações em que estão colocadas. Chegam a
porta
do
Sol um mirante onde a vista é bela, mas melancólica. Ali teria sido o local
escolhido para
execuções
em tempos antigos. O autor fica pensando se não seria ali que Frei Dinis teria
estado para
47
lamentar
o resultado da guerra. Neste momento o companheiro de viagem que iniciou a
história da
Joaninha
aproxima-se e sugere que eles sentem ali para ouvirem o final da história.
Agora o autor
promete
aos leitores que não irá mais entrar em digressões e que a história será
contada de forma
direta
até o seu final.
Capítulo
32
O
autor recorda ao leitor o que se passou no final do capítulo 25 de onde retoma
a história. Tinham
Carlos
e Joaninha se despedido tristes e duvidosos. Naquela noite um grande movimento
de guerra
reinava
nos postos dos constitucionais. Carlos apresentou-se ao quartel general recebeu
ordens para
partir
para um ataque onde poderia encontrar com a morte. Devido às confusões que lhe
abatiam,
Carlos
já contava com a possibilidade de uma morte digna que o livraria de suas
angústias. Armou-se
e
foi para o combate. Uma grande batalha sucedeu-se. Ao final do dia Carlos dava
entrada em um
hospital
de Santarém crivado de balas. Foi atendido junto aos outros feridos. Guardava
seguro na
mão
esquerda um talismã que não largava por nenhum motivo. Adormeceu. Quando
acordou estava
em
uma cela do convento de S. Francisco. Tinha por enfermeira uma jovem bonita de
rosto oval,
cabelos
louros e anelados e os olhos azuis. Acompanhava da porta de sua alcova o Frei
Dinis. A
cada
movimento de Carlos ele se recolhia para não ser notado. Carlos acordou e
reconheceu
Georgina.
Carlos fica sabendo que está prisioneiro no Convento de S. Francisco, mas que
assim que
ele
se curar ela irá ajudá-lo a livrar-se. Carlos perguntou pela sua família.
Georgina contou que eles
estavam
também em Santarém e que assim que ele estivesse fora de perigo iria vê-los.
Carlos estava
fraco,
foi medicado e adormeceu. Passaram dias e semanas nas quais Carlos foi
aconselhado a não
falar
para não agravar sua saúde. Um dia Georgina pode lhe dizer que já estava fora
de perigo e que
iria
rever sua avó e Joaninha.
Capítulo
33
Georgina
diz a Carlos que não o ama mais. Ele fica desolado e questiona os motivos que a
levaram a
não
mais amá-lo. Faz juras de amor a Georgina e diz que vai padecer se não for mais
correspondido.
Georgina
pede que ele se acalme, pois está debilitado. Calmamente ela explica que
realmente amou
muito
a Carlos. Que todos os momentos que viveram foram verdadeiros. Carlos diz não
entender
então
porque ela não o ama mais. Georgina explica que depois que Carlos voltou para a
Ilha Terceira
ela
havia se resignado, mas mantinha por ele o amor. Sentia que da parte dele
também existia este
amor.
Recebia suas cartas e via nelas a verdade nas palavras de Carlos, mas quando
ele voltou ao
vale,
começou a notar que o sentimento dele estava diferente. As suas palavras não
fluíam com tanta
naturalidade.
Ela sentia que o estava perdendo e decidiu vir para Portugal para encontrar com
ele. Ali
chegando
encontrou-o ferido e junto dele estava Frei Dinis. Ela contou ao Frei quem era
ela e qual a
relação
que eles tinham. O frei trouxe-os ao convento onde ela passou a cuidar dele.
Ficou próxima
da
sua avó e de Joaninha. Carlos ainda tentou afirmar que amava Georgina. Ela
contou então que já
sabia
que Carlos estava apaixonado por Joaninha e que a prima também o amava. Já
tinha se
comprometido
a ajudar que os dois ficassem juntos. Carlos a princípio disse que não queria
ficar com
Joaninha.
Georgina questionou se ele queria trazer mais sofrimentos a sua família. À
Joaninha, à sua
avó
que o amava como mãe e ao Frei Dinis que o amava com todo o coração. Quando ele
ouviu o
nome
de Frei Dinis, ficou irritado e o amaldiçoou. Mal ele tinha pronunciado o seu
nome, o Frei abriu
a
porta da alcova e entrou na cela.
Capítulo
34
A
cela estava meio escura. Carlos puxou a cortina que velava a luz que vinha de
fora atingindo com
um
raio solar os olhos do frade. Frei Dinis chegou para perto de Carlos e pediu
para que ele não o
amaldiçoasse,
pois ele vinha pedir-lhe perdão e dizer que o amava. Carlos ficou sem palavras.
Ouviuse
um
burburinho que vinha de fora do convento. Frei Dinis contou a Carlos que os
constitucionais
haviam
vencido, que o barulho que ouviam eram os absolutistas que evacuavam Santarém
indo na
direção
do Alentejo. Os constitucionais haviam vencido em Asseiceira e não havia mais
nada a
acontecer
a não ser o perdão que pedia a Carlos. Carlos estava com uma confusão de
sentimentos
entre
piedade, compaixão e ódio. Não se contendo ele acusou o padre de ter
assassinado o seu pai e
de
ter cegado a sua avó. Frei Dinis confirmou as suas suspeitas e pediu que ele o
matasse. E
48
abaixando-se
implorou que ele lhe pisasse sobre a sua cabeça, pois já estava velho e seria
fácil
matá-lo.
Dizia que todos os anos de penitência não tinham lhe curado a culpa dos males
que causou
a
família de Carlos.
Capítulo
35
Georgina
pede a Carlos que ele dê a mão ao frade e que o levante do chão e o perdoe.
Carlos fica
impassível.
Georgina pega na mão do frade e levanta o seu rosto e o trás para junto de si
tentando
consolá-lo.
Frei Dinis parecia uma criança. Georgina com a voz da sedução feminina pediu
novamente.
Esse homem vai morrer, você não vai perdoá-lo, meu Carlos? Ao ouvir estas
palavras
Carlos
se rendeu e ajoelhando-se ficou abraçado a Georgina e ao Frade. Ficaram assim
por muito
tempo
sem dizer palavra alguma. Até que o Frei pediu com voz fraca que Carlos
perdoasse também a
sua
mãe. Carlos deu um salto chamando o Frei de Demônio e dizendo que iria matá-lo.
Pegou um
velador
de pau-santo e levou ao ar para desferir um golpe mortal no crânio do velho.
Este apenas
estendeu
a cabeça não mostrando resistência. No momento que iria se consumar este
homicídio dois
gritos
foram ouvidos. Eram a avó e Joaninha que entravam na cela. A avó dizia a Carlos
que o Frei
era
na verdade o seu pai. Carlos soltou o velador e caiu sem sentidos. Georgina o
levantou e o
colocou
sentado na cadeira. Uma ferida em seu pescoço havia aberto devido ao esforço e
ele estava
todo
ensangüentado. Joaninha e Georgina acudiram Carlos e fizeram um curativo para
estancar o
sangue.
Joaninha sentiu-se ameaçada com a presença de Georgina. Georgina lembrou o
trato que
fizera
com Joaninha despedindo-se e pedindo que ela cuidasse de Carlos. Disse que
estava
sobrando
ali, pois não precisava saber sobre os segredos daquela família. Pede para que
ela console
a
avó e o Frei que ela acha que não é criminoso. Joaninha alega que a avó já
havia contado a
verdade
para ela e que o Frei realmente não tinha culpa. Carlos murmurou sem abrir os
olhos,
querendo
saber a verdade. A avó contou que o Frei era na verdade o pai de Carlos e que
sua mãe o
havia
amado. Carlos perguntou qual o motivo que levaram o Frei a matar aquele que
conhecia por pai
e
o pai de Joaninha, seu tio. Frei Dinis respondeu que ele apenas se defendeu. Os
dois homens se
uniram
para lhe emboscar na charneca. Era noite e ele não viu quem o atacou. Ao se
defender
acabou
matando os dois homens e só ficou sabendo a sua identidade quando foi jogar os
corpos no
rio.
Era época de cheia e quando encontraram os corpos ninguém ficou sabendo o
motivo da morte
dos
dois. Mas Frei Dinis contou para a mãe de Carlos e esta morreu de desgosto e
remorso. Não
satisfeito
um dia ele contou para D. Francisca o que ocorrera e ela chorou lágrimas de
sangue e
acabou
ficando cega. Diante de todo sofrimento que causou esperava não viver o
suficiente para
revelar
toda a verdade a Carlos. Carlos então levantou o frade, colocou-o sentado na
cadeira e
beijou-lhe
a mão. Depois abraçou a avó que o apalpava e resmungava que já poderia morrer
pois já
havia
abraçado mais uma vez o neto que ela considerava como filho. Carlos saiu
fazendo sinal que já
voltava,
mas não retornou. Três dias depois chegou uma carta de Évora onde ele estava
com o
exército
constitucional.
Capítulo
36
Ainda
não acabou a história da Joaninha. Não falta muito, nem pouco. O autor diz que
vai acabar
logo,
pois as gentes estão impacientes em saber. Querem saber que fim levou Joaninha,
a avó, o
Frei,
a inglesa e Carlos. Questiona se Carlos deve ser tratado como impuro ou digno
de pena. Que
seu
grande problema foi amar demais. Que o coração pode ser grande fisicamente ou
moralmente. O
coração
que é fisicamente grande causa a morte e o que é moralmente grande leva a morte
dos
sentimentos.
Segundo o autor Carlos padece do coração moralmente grande e prevê o seu fim
com a
perda
dos sentimentos. Só vê dois caminhos possíveis, a política ou a agiotagem. Diz
que a maldição
maior
é se for os dois; Deputado e Barão. Neste momento voltam à viagem e o final da
história fica
para
o dia seguinte. Encontram o Barão de P. que irá guiá-los. Foram a porta de
Atamarma local onde
D.
Afonso Henriques pôs fim ao domínio árabe em Portugal. O autor lamenta que a
Câmara de
Santarém
pretenda demolir este Monumento. Em cima do arco existe uma capela da Virgem da
Vitória
que o autor coloca em dúvida se foi D. Afonso que construiu. Questiona a falta
de
documentação
sobre alguns monumentos. Crê que os frades croniqueiros deixavam de registrar
muitas
coisas, pois achavam que não seriam modificados os monumentos pelos homens.
Eles
visitaram
a capela por dentro o que desanimou o autor profundamente, pois ela não
guardava em
nada
o aspecto de passado esperado por ele. Faz um grande lamento pelo abandono que
deixaram
49
Santarém.
Como uma súplica faz um apelo à cidade de Santarém e a seus monumentos pedindo
que
eles
resistam aos descasos dos governantes. Faz um grande desabafo.
Capítulo
37
Passaram
diante da Graça onde está sepultado Pedro Álvares Cabral, mas não puderam
visitar o
túmulo,
pois o responsável pelas chaves não se encontrava no local. Foram à casa do
Barão de A.,
outro
que segundo o autor não se encontra entre os barões assinalados, referência
clara a Os
lusíadas.
Seguiram com o Barão de A. para a cerimônia da exposição e ostensão do Santo
milagre. O
autor
faz uma pequena descrição da igreja e inicia-se a cerimônia. Sobem até o local
onde se
encontra
a âmbula que contém a partícula consagrada. Foram abençoados e puderam olhar a
relíquia
de perto. O pároco contou que naquele mesmo camarim estavam os restos mortais
de D.
Maria
da Assunção, filha de D. João VI, que morreu em Santarém nos últimos anos em
que o exército
absolutista
ocupava a cidade. O corpo havia ficado mal embalsamado e estava causando
doenças
aos
freqüentadores da igreja. Pediu-se então ao governo que tomasse alguma medida,
mas devido
ao
desinteresse do mesmo o corpo foi sepultado em cova rasa sem nenhum distinção
ou epitáfio. Era
mais
um descaso com a história de Portugal. Depois da cerimônia foram visitar a casa
em que se deu
o
milagre. A casa havia sido transformada em capela, mas estava em estado de
abandono.
Associado
ao Santo milagre existia uma lenda do homem de botas. Na época da invasão
francesa o
paládio
escalabitano havia sido transferido para Lisboa para que não fosse roubado.
Após a retirada
dos
franceses o povo santareno começou a requisitar o retorno da relíquia.
Preocupados com os
tumultos
que poderiam acontecer durante o transporte foi espalhado um boato de que um
homem iria
atravessar
o rio Tejo utilizando apenas uma bota de cortiça não precisando de embarcação
para isso.
Todos
foram para a beira do rio ou para embarcações para esperar o feito. Enquanto
isso, era
embarcado
o Santo milagre rumo a Santarém. Os Lisboetas só ficaram sabendo do fato quando
a
relíquia
já havia chegado a Santarém e o povo festejava a sua volta. Os viajantes foram
jantar à
Alcáçova.
Capítulo
38
Esperava
por eles um belo jantar. Foram depois para a Ribeira. Procuraram em vão um
local onde se
pudesse
ter havido a tenda do Alfageme. Para o autor, a Ribeira foi mais decepcionante
que
Santarém.
Chegando novamente a Santarém ocorre um baile que não apetece ao autor. Apenas
admira
pelo fato de reunirem-se tantas pessoas em uma cidade que ele tinha como quase
deserta.
Fala-se
sobre Lisboa e sobre Portugal. Discutem-se as coisas erradas e conclui-se
depois que a
ausência
de Lisboa parece fazê-la ficar mais atraente. Fala-se ainda das enfadonhas
óperas do
Teatro
Carlos Gomes e as apresentações dramáticas que são repetitivas e maçantes.
Mesmo assim
a
província não conta com estes recursos. Faz algumas digressões sobre o uso das
palavras. Faz
mais
críticas a sociedade diz que detesta a filosofia e a razão e termina o
capítulo.
Capítulo
39
Explica
o ceticismo colocado no final do capítulo anterior e faz mais algumas
digressões sobre o
assunto.
Fala novamente ao leitor. Volta à viagem. Diz que preferia o ócio a fazer mais
descobertas,
pois
o dia não está agradável para passeios. Preferia estar de volta ao vale para
concluir a história da
Joaninha.
Promete que irá depois, pois agora vai almoçar e continuar seus estudos
arqueológicos.
Vão
ao Colégio dos jesuítas. Questiona os motivos que não permitem a Santarém que
mantenha
bons
colégios. Questiona a centralização dos estudos em Lisboa deixando a província
desprovida de
um
bom colégio. Vão a S. Domingos. Fica impressionado quando a porta se abre e
nota que acabara
de
servir de palheiro. Encontra-se ali o jazigo de S. Frei Gil, que o autor chamou
anteriormente de o
Fausto
Português. Reforça que só existem os grandes vultos na literatura devido a
existência dos
grandes
escritores. Não existiria um Fausto sem o Goethe e um Agamêmnon sem Homero.
Fala da
grande
admiração que tem pelo S. Frei Gil e como ele concentrava-se apenas na história
deste mago
quando
na escola obrigavam-no a estudar a história de S. Domingos. As referências que
tinha de
Fausto
e a necessidade que vê de escrever uma obra onde S. Frei Gil apareça como
protagonista.
Cita
a pequena inserção que faz em Dona Branca. Vai a capela de S. Frei Gil e se
desaponta
50
novamente.
O túmulo é totalmente sensabor e não faz jus ao grande homem que ali jaz. Ao
chegar
perto
do túmulo nota que ele foi profanado e questiona quem teria coragem de cometer
tal sacrilégio.
Capítulo
40
Era
noite e reinava a confusão em Santarém, três homens chegaram ao mosteiro das
claras onde
foram
abrigados pelas monjas. Os homens traziam uma urna contendo algo muito valioso
talvez fruto
de
um crime. Era o ano de 1834. Os liberais estavam espoliando os conventos dos
franciscanos e
dos
dominicanos. Toda a comunidade das claras acompanhou estes homens a uma capela
entoando
um
salmo que prenunciava a invasão dos templos. Fica-se sabendo que entre os
homens, dois eram
frades
dominicanos, e um, frade franciscano. Os mosteiros já haviam sido tomados pelos
liberais e
para
resguardar o corpo de S. Frei Gil que jazia no mosteiro de S. Domingos estes
homens haviam
praticado
um roubo. Profanaram o túmulo de S. Frei Gil para que não o fizessem os
liberais. Sabendo
que
o mosteiro das claras não seria invadido pediram para que as monjas protegessem
os restos
mortais
de S. Frei Gil. Ninguém ficou sabendo, apenas o autor que guardou segredo.
Agora que os
tempos
são outros, diz que pode revelar o segredo. Faz nova crítica aos barões.
Capítulo
41
O
autor dá crédito ao leitor dizendo saber que ele reconheceu Frei Dinis no
capítulo anterior como
sendo
um dos frades que roubou o corpo de S. Frei Gil. Chega ao convento de S.
Francisco. Diz que
já
se interessa mais pelo final da história da Joaninha do que dos monumentos de
Santarém. Se diz
cansado
de Santarém e que quer ir embora pois não suporta mais ver o descaso com a
história de
Portugal.
Capítulo
42
Novamente
se diz desolado com o descaso e com as profanações. Quer ir embora mas
lembra-se de
visitar
o túmulo do rei Fernando. Fica novamente decepcionado pois encontra o túmulo
profanado.
Critica
o povo de Portugal por não ter mais religião e ter se tornado materialista e
faz uma previsão de
que
Portugal não durará mais 10 anos se os barões continuarem mandando. Finaliza
com uma
reflexão
de que Jesus que sempre foi tolerante, perdeu a paciência quando viu os
vendilhões em
frente
do templo.
Capítulo
43
Sai
de Santarém. Passa pelo vale. Encontra D. Francisca e o Frei Dinis na frente da
casa. Pergunta
sobre
Joaninha. Frei Dinis diz que Joaninha está morta. Pergunta sobre Carlos. Frei
Dinis pergunta o
que
ele sabe. Diz que conhece toda a história até a partida de Carlos. Frei Dinis
entrega a ele a carta
de
Carlos para que ele leia.
Capítulo
44
Carlos
escreve a Joaninha para explicar a ela porque ele não a merece. Começa contando
a história
dele
depois que foi embora da casa da avó. Foi para a Inglaterra onde relacionou-se
com uma família
elegante
e rica. Que em princípio estranhou os hábitos daquela família mas que depois
acostumouse.
Havia
três meninas naquela família. Ele passou a gostar das três mas acabou se
apaixonando por
uma
delas. Laura, a segunda em idade.
Capítulo
45
Faz
uma descrição de Laura. Declarou-se para ela num passeio mas ela não respondeu.
No dia
seguinte
a irmã mais velha de Laura, Júlia, o chamou para conversar. Faz uma descrição
de Júlia. Os
dois
ficam sós.
51
Capítulo
46
Júlia
diz a Carlos que Laura também o ama mas que não pode ficar com ele pois já está
comprometida.
Diz que Laura irá se casar dali a três meses e que irá para a Índia. Carlos
sente uma
grande
dor pede para falar com Laura. Júlia traz Laura e os dois conversam. À noite
partem para uma
estalagem
de onde Laura partirá para o País de Gales e lá ficará esperando até a data do
casamento.
Carlos
relata que durante a viagem era em Joaninha que ele pensava. Diz que julga-se
um monstro e
que
está espantado consigo.
Capítulo
47
Chegam
a estalagem onde despede-se de Laura. Carlos sente-se aliviado. O pai de Laura
chega de
uma
excursão de Londres e pede para que Carlos cuide de suas duas filhas pois vai
encontrar-se
com
Laura no País de Gales. Carlos fica três dias sem aparecer. Quando volta Júlia
fica alegre.
Mostra
para Júlia as cartas que escreve para Laura. Júlia passa a ser correspondente
entre Carlos e
Laura.
Carlos diz a Joaninha que a ama. Carlos vai para Londres para que Laura se
case. A pedido
de
Júlia volta a Shire.
Capítulo
48
Ao
voltar a Shire Carlos encontra Georgina. Apaixona-se por ela. Três meses se
passam. Carlos vai para
o Açores. Conhece Soledade mas diz que não a amou. Volta a Portugal e diz a
Joaninha que a partir
daí ela já sabia a continuação da sua história. Diz que ao vê-la novamente,
notou que sempre foi
ela que amou. Diz que não pode e não deve amar mais ninguém. Pede a Joaninha
que cuide da avó
e de Frei Dinis e despede-se dela para sempre.
Capítulo
49
O
autor entrega a carta a Frei Dinis. Este conta que Joaninha enlouqueceu e morreu
no colo da avó e
de Georgina. Georgina virou abadessa em Shire e a avó de Joaninha, após a sua
morte, ficou em estado
mórbido conforme ele estava vendo em sua frente. E Carlos virou barão e logo
entraria para a política.
Fizeram algumas discussões sobre o fato dos barões terem sucedido os frades e o
prejuízo para
Portugal. O autor segue viagem para Cartaxo onde encontra com seus companheiros
de viagem. Dormem
ali e no dia seguinte seguem para Lisboa. Termina a viagem e o livro. O autor
mostra o apreço
que tem pelas viagens que faz em sua terra e jura que não irá viajar nas
estradas de ferro dos barões.
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