segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Resumo Viagens da Minha Terra de Almeida Garret



Resumo dos capítulos de Viagens na minha terra

Capítulo 1
Almeida Garrett faz um relato sobre os motivos que o levaram a escrever esta obra. Faz sua primeira citação a outro escritor, Xavier de Maistre (Voyage autour de ma chambre) dizendo que este viajou dentro de seu quarto por morar à beira dos Alpes, mas que Garrett prefere dedicar seu texto a uma extensão mais longa e para tanto irá fazer uma viagem de Lisboa à Santarém da qual tudo que for digno de registro será relatado em sua obra. Conta que este era um desejo que foi reforçado pela mexeriquice feita em um jornal sobre esta viagem. Começa então a relatar os detalhes de sua partida como o horário e local da partida. Inclui um primeiro personagem chamado Sr. C. da T. e outros não nomeados. O navio parte e ele vai admirando as primeiras paisagens da ré do navio. Entediado passa para a proa para fumar um charuto. Encontra dois grupos que se enfrentam em uma questão. Seriam homens do norte disputando com os homens do sul quais eram os mais fortes. Desfeita a dúvida a viagem prossegue.

Capítulo 2
Começa com uma grande digressão acerca da obra que se está escrevendo. Garrett conversa com o leitor inserindo-o na obra através da explicação do motivo nobre de sua obra. Segundo o autor ele pretende escrever sobre a marcha do Progresso Social. Para embasar sua opção ele busca em D. Quixote de Cervantes os princípios que entende que regem a humanidade: o materialismo representado por Sancho Pança e o espiritualismo representado por D. Quixote. Chegam ao triste desembarcadouro de Vila Nova da Rainha que segundo Garrett é o mais feio pedaço da terra onde pôs seus pés. A descrição do local á pavorosa e o lado Sancho Pança de Garrett sobressai sobre o seu lado D. Quixote. Ele nos apresenta mais um companheiro de viagem de nome Sr. L.S. que oferece carona em sua carroça até o Azambuja. Cita Jeremias Bentham. Passam por Vila Nova que recebe mais críticas sobre o aspecto do lugar. Garrett critica o governo e relata que para que as estradas do país fossem boas os ministros deveriam viajar pelo menos uma vez por ano por elas. Chegam a Azambuja aonde vão se instalar em um local que serve de hotel, restaurante e de café da terra. Na porta Garrett vê uma mulher a quem ele chama de bruxa e assustado deixa a pena cair de sua mão.

Capítulo 3
Volta a conversar com o leitor. Tenta mostrar que o leitor deveria esperar do autor. Segue com mais uma digressão. Compara a estalagem da Azambuja com a estalagem de Cervantes. Critica os ricos perguntando quantos miseráveis são necessários para que se tenha um homem rico. Cita Doutor Fausto e Vitor Hugo e acaba a digressão citando Sheakespeare. Quando finalmente diz que irá começar a descrição da estalagem faz nova digressão. Afirma que a sociedade é materialista como Sancho Pança, mas a literatura que deveria ser sua representação é espiritualista como D. Quixote. Começa uma descrição falsa da estalagem. Cita Boileau para defender que a verdade é mais importante que a mentira. Fala sobre a mentira de Santo Antão e de São Pacômio que na verdade eram demônios. Finalmente relata que na estalagem havia apenas a velha que vira no final do capítulo anterior, uma jovem que era tão feia quanto à velha e um velho demente e paralítico. Garrett reclama da água, dos limões e do açúcar que são utilizados para fazer uma limonada que os viajantes bebem apesar do aspecto abominável. Caminham em direção ao pinhal da Azambuja.

Capítulo 4
Neste capítulo Garrett defende uma proposição sua de que entre as qualidades prefere a modéstia sobre a inocência. Introduz um debate filosófico entre o poeta Dêmades que argumenta ao contrário e o filósofo Addison que formula o mesmo pensamento de Garrett. Para o autor a utilização de erudição dará a sua obra um status de grande obra com a qual ele pretende fazer sua reputação. Antecipa-se as críticas sobre o fato de Addison ter sido ministro de estado e demonstra que não vê incompatibilidade entre um grande erudito fazer parte da vida política. Em seguida faz uma grande digressão sobre os efeitos que a modéstia causam sobre uma bela dama. Coloca ao leitor a pergunta sobre o que este assunto teria haver com a viagem e responde que esteve sonhando acordado durante o caminho entre a Azambuja e o Cartaxo. No final sugere que o leitor pule este capítulo e siga direto para o próximo.

Capítulo 5
Chegando ao Pinhal da Azambuja frustra-se com o que vê. O que deveria ser uma floresta nada mais é que um local quase deserto. Faz alusões às imagens que fazia do Pinhal colocando-o sempre como cenário de grandes clássicos literários que necessitavam de uma floresta como fundo. Explica como se faz a literatura em seu tempo e alerta ao leitor que não espere outra coisa desta obra senão um romance. Apresenta uma fórmula de fazer um romance: Todos os romances precisam de: Uma ou duas damas; um pai; dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos; um criado velho; um monstro, encarregado de fazer maldades; vários tratantes, e de algumas pessoas capazes para intermédios. Vai-se aos figurinos franceses recorta as personagens e as cola em qualquer arranjo. Vai-se às crônicas tirando os nomes e palavrões velhos. E eis como se faz a literatura original. Busca a referência clássica de Orfeu para explicar o sumiço do Pinhal. Cria a alegoria de uma companhia por ações criada por Orfeu fazendo alusão as grandes negociatas entre banqueiros e o tesouro. Fica sem o seu meio de locomoção e cita novamente Xavier de Maistre comparando o momento em que este autor cai em seu quarto no meio de uma de suas andanças. Resigna-se que terá que ir à Santarém no lombo de uma mula. A mulinha a trotar dá choitos que o fazem lembrar de seu amigo Marquês de F. que apreciava os choitos de sua carruagem.

Capítulo 6
Garrett defende Camões dizendo que a solução encontrada para os Lusíadas foi misturar o mitológico com o cristianismo. Acha uma pena Camões ter existido antes do Romantismo. Faz uma comparação entre A divina comédia de Dante, Fausto de Goethe e Os lusíadas de Camões. Segundo Garrett, Dante tinha fé em Deus, Goethe no ceticismo e Camões na sua pátria. Faz uma defesa às crenças e uma grande digressão a respeito do romantismo fazendo paralelos entre os grandes autores clássicos e os primeiros grandes romancistas. Iguala-se a Camões ao dizer que se encontra entalado sem poder dar continuidade a sua obra. Propõem então fazer uma sensaboria indo buscar respostas de um ser já morto. Cita novamente Dante em sua Divina comédia enaltecendo que tenha escrito uma obra densa num momento inquisitivo. Mas não pretende descer ao inferno de Dante e prefere procurar o Marquês de Pombal nas ilhas aventuradas descritas pelo poeta Alceu. Encontra com o Marquês e pergunta a ele porquê mandou arrancar as vinhas do Ribatejo pois estas se multiplicaram e atingiram o pinhal de Azambuja. Não obteve resposta. Volta a este mundo em frente ao grande café de Cartaxo.

Capítulo 7
O autor faz uma comparação entre os prazeres de chegar em um bom caleche ao Café Tortoni de Paris e sua chegada na mula ao café de Cartaxo. Critica os Lisboetas por não viajarem defendendo que só conhece o mundo aquele que viaja. Faz um relato do Café de Cartaxo e defende que através dos Cafés podemos apreender tudo sobre o país em que estamos. Conversa com o dono do Café que lhe diz que todas as notícias vêm de Lisboa. Conversam então sobre o mestre J.P, conhecido como o Alfageme. Discutem sobre o porquê chamam J.P. de Alfageme e fazem alusão ao Alfageme de Santarém. O dono do café explica que J.P falava bem ao povo, fez-se juiz e conquistou bom nome fazendo do povo o que bem quer. Os viajantes tomam uma limonada fazendo antes uma libação aos deuses. Vão ao encontro do velho D. que os encontra no caminho. Criticam os ingleses que abandonaram a aliança com Portugal. Citam que trocaram o bom vinho português pelo francês. Dizem que os ingleses não são nada sem o Porto ou Madeira portugueses. Citam que Cartaxo foi
importante na história de Portugal sendo palco da guerra da sucessão abrigando o quartel general do Marquês de Saldanha. Criticam o governo liberal dizendo que não foi bom para a indústria do vinho. O autor não concorda com esta afirmação, mas diz que vai explicar futuramente o motivo.

Capítulo 8
As cinco da tarde eles seguem viagem. Chegam à charneca. O autor faz uma digressão sobre as montanhas, os bosques e os vales descrevendo imagens pictóricas e se diz apaixonado pela charneca. Renega a hipótese de ser Romântico. Diz que tem vontade de fazer versos, mas é acordado de sua letargia por um companheiro de viagem. Foi aqui, dizia ao autor. Este ainda voltando do transe pergunta o quê foi ali. O viajante lembra que naquele local foi feita a última revista do imperador D. Pedro. O autor lembra que ali fora feita a última revista ao exército liberal. Que foi depois da batalha de Almoster. O autor questiona os desígnios da guerra. Conta que esteve no campo de Waterloo, vinte anos depois da batalha, e ainda viu luzir os ossos das vítimas da guerra. As reflexões sobre as guerras fizeram mudar seu sentimento. Chegam à ponte da Asseca.

Capítulo 9
O autor inicia este capítulo com uma grande digressão que ele chama de dramático-literária. Cita uma lista de peças de teatro escritas por Ênio Manuel de Figueiredo; O casamento da cadeia, O fidalgo de sua casa, O cioso, O Álvaro dissipador. Mas para o autor a melhor obra intitula-se Poeta em anos de prosa. Não pelo seu conteúdo, mas pelo seu título. Segundo o autor existem algumas obras que não deveriam ter título e alguns títulos que em si só já são uma grande obra. Cita como grandes poetas de seu século Bonaparte, Sílvio Pélico e o barão de Rotschild. O primeiro com a espada o segundo com a paciência e o terceiro com o dinheiro. Faz uma reflexão sobre o nome da ponte de Asseca. Cita que neste local Junot foi ferido na cara. Lembra que a primeira notabilidade que conheceu foi Bonaparte e se diz jacobino desde pequeno. Conta que por suas idéias liberais sofre perseguição e foi pedir asilo à França. Através de seu amigo C. do S. é apresentado a Madame de Abrantes. Era uma senhorita já de idade mas que deixou-o encantado. Conversaram sobre vários assuntos. O autor conversa novamente com o leitor desculpando-se por suas digressões. Coloca-nos novamente na
ponte de Asseca e chega agora ao vale do Santarém. Pátria dos rouxinóis e das madressilvas.

Capítulo 10
O autor faz uma descrição do vale de Santarém falando sobre a sua beleza imaginando ali um jardim do Éden onde só há lugar para o amor e harmonia. A descrição é de um quadro bucólico onde se vê por entre as árvores a janela de uma casa pela qual o autor se interessa. Começa uma digressão sobre quem moraria naquela casa e que belo romance daria. Diz que se fosse homem seria poeta e se fosse mulher estaria apaixonada. Estabelece uma relação entre estas duas possibilidades
aludindo que o poeta é como uma mulher apaixonada. Vê um rouxinol cantar ao pé da janela seguido de mais outro. Pensa então como seria a mulher que viveria naquela casa, se seus olhos eram pretos. É interrompido por um companheiro de viagem que relata que realmente habitou ali uma moça, mas que os olhos eram verdes. E que ali se desenvolveu um belo romance. Que vivera ali uma moça que ficou conhecida como a menina dos rouxinóis, mas que já havia morrido e que já havia passado 10 anos. O autor pede então que se conte a história que ele irá narrar. Chama de um
épico e fica apreensivo de contar, pois segundo dizem, os portugueses não são bons romancistas. Mas alerta as suas leitoras que não vai narrar um romance e sim uma estória simples. Finda o capítulo com esta digressão.

Capítulo 11
O autor inicia o capítulo com mais uma grande digressão agora sobre os poetas e filósofos. Segundo o autor a grande virtude dos poetas é viverem apaixonados, o que os filósofos tentaram lhes tirar em vão. Também os Romancistas apresentam esta virtude e, segundo o autor, se não estiver apaixonado não deve escrever, pois sua obra será maçante. Cita Yorick de Sheakespeare que se dizia viver sempre apaixonado. Questiona como ele mesmo poderá escrever um romance se lhe resta no mundo apenas uma esperança e uma saudade, um filho no berço e uma mulher na cova. Pede a opinião de
suas leitoras. Conversa com elas. Fala de uma visão que teve um mês antes e se diz habilitado para ser cronista da história. Começa a história. Era o ano de 1832 estava uma velhinha com mais de setenta anos sentada a porta da casa. Estava sentada em uma cadeira em frente a uma dobadoira enrolando um novelo de fio. O movimento da dobadoira era constante e lento. A velha tinha seus olhos voltados para o horizonte. A meada engatou fazendo o trabalho parar. Ela então chamou para dentro da casa pelo nome de Joaninha. Era sua neta. Ficamos sabendo que a velha é cega.

Capítulo 12
Joaninha ajuda a avó a desenrolar a meada e oferece-lhe um lanche. As duas lancham e ficam paradas. As duas estão tristes. O autor faz uma longa descrição de Joaninha. Ela contava então com 16 anos e não era muito bonita, mas uma moça de muitos bons sentimentos capaz de fazer um homem muito feliz. Tinha os olhos verdes que encantaram o narrador que diz ser mais devoto dos olhos pretos e também admirar os olhos azuis. Mas os olhos verdes de Joaninha são de uma beleza nunca vista por ele. A velha percebendo-se triste pede a Joaninha que lhe coloque o novelo na mão para que ela se ocupe de algo para espantar a tristeza. A velha nota que Joaninha estava chorando e aconselha que deixe a tristeza para ela que já viveu e sofreu bastante. Joaninha quer conversar mais com a avó, mas elas percebem que alguém está se aproximando da casa. Era Frei Dinis o austero guardião de S. Francisco de Santarém.

Capítulo 13
O autor relata que pessoalmente é contra os Frades. Mas que poeticamente eles são importantes.
Faz uma reflexão entre o Frade e o Barão relacionando o primeiro a D. Quixote e o segundo a
Sancho Pança. Faz várias críticas ao Barão comparando-o ao asno. Diz que os Frades não
entenderam o seu século e nem o século os entendeu e que os Barões acabaram com os Frades e
pergunta quem irá agora acabar com os Barões. Fala das perdas para o progresso e questiona o
silêncio que só é quebrado pelos gritos dos Barões contando dinheiro. Critica as universidades. O
autor nos informa que este capítulo deve ser considerado como introdução do próximo capítulo em
que entra em cena Frei Dinis. Faz uma lista dos vários frades que utilizou em outras obras suas. Cita
as obras Camões, Dona Branca, Adosinda, Gil Vicente, Frei Luís de Souza, e Arco de Santana, todas
de sua lavra. Justifica-se alegando que em tudo que ocorre em Portugal desde o início de sua história
até mil oitocentos e trinta e tantos não houve coisa pública ou particular em que um frade não
estivesse envolvido. Para fugir do uso do Frade sugere que se use a receita de fazer romance que
ele apresentou no capítulo 5, mas alega que ele não sabe fazer daquela forma.
Capítulo 14
No início do capítulo, o autor promete que não haverá divagações. Frei Dinis chega junto as duas
mulheres e as abençoa. Frei Dinis repreende a velha, que agora ficamos sabendo que se chama
Francisca, por suas queixas. Sustenta que virou frade por vontade própria, jurando diante da igreja, e
que a Irmã Francisca não precisaria vestir o hábito por ter feito o juramento apenas diante de Deus.
Irmã Francisca pergunta sobre o neto. O frade pede que Joaninha entre na casa. Conta para
Francisca que o seu neto está na companhia dos liberais que vieram das ilhas e desembarcaram no
Porto. A avó se desespera ante a possibilidade de não ver mais o neto. Frei Dinis diz que não vê mais
nenhuma possibilidade de conciliação entre os liberais e os absolutistas. Segundo ele, o jovem passa
a ser seu inimigo e ele prevê a vitória dos liberais. Diz que os absolutistas estão cheios de pecados e
que a misericórdia de Deus está esgotada para os que não crêem nele. Vê que o neto de Francisca é
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seu inimigo e chama-o de maldito e de filho ingrato. Francisca se desespera diante destas palavras,
pede a Deus que não ouça as palavras do Frei e cai prostrada no chão. O frei em sua rigidez chama
Joaninha para cuidar de sua avó e vai embora.
Capítulo 15
O autor inicia o capítulo com uma pergunta. Quem era o Frei Dinis? Um homem que se fizera frade
depois de certa idade e num momento em que os frades já não tinham valor. Homem de princípios
austeros, crenças rígidas e lógica inflexível e teimosa. Achava absurdas as teorias dos liberais e
entendia que a única lei necessária para a humanidade era o Decálogo e que o Evangelho bastaria
como única constituição. Acreditava que o poder do homem sobre o homem era usurpação e que
todo poder estava em Deus. Dizia que o liberalismo dividia-se em duas coisas; duvidar e destruir por
princípio, adquirir e enriquecer por fim. Que seria liberal se os liberais entendessem que a igualdade e
a liberdade só se conseguem seguindo os preceitos da religião. Os sistemas monásticos eram seu
sistema e que sem a rigidez e o controle a sociedade precipitar-se-ia a um materialismo estúpido e ao
individualismo egoísta que a levariam a seu fim. Tornou-se frade aos cinqüenta anos. E apesar da
rigidez algo o prendia ao mundo exterior. Ele deixava todas as sextas o convento para ir ao encontro
da Irmã Francisca e de Joaninha. O rapaz que habitava àquela casa fazia dois anos que se afastara.
Capítulo 16
Diz-se que a vida do claustro era monótona e singela e passa-se então a falar da vida do frei Dinis
antes dele ter abraçado a causa religiosa. Chamava-se Dinis de Ataíde, foi da carreira das armas e
das letras, lutou na guerra Peninsular. Abandonou a vida militar para tornar-se corregedor do Ribatejo
em 1825. Seria reconduzido ao Porto e foi a Lisboa receber o seu despacho, beijou a mão à el-Rei, e
tomou o caminho de Santarém. Foi ao convento de S. Francisco e não se soube mais dele durante
dois anos quando apareceu então como Frei Dinis da Cruz. Escolheu a ordem de S. Francisco por ser
a mais desacreditada entre tantas outras, assim teria uma penitência maior. De todos os seus bens
separou apenas o necessário para o dote para entrar para o convento e doou todos o resto para D.
Francisca Joana. A família de D. Francisca era apenas sua neta e seu neto. Quando os seus filhos
ainda eram vivos o então corregedor Dinis de Ataíde freqüentava sua casa. Foi após a morte do seu
filho e genro que ocorreu em um naufrágio que ele nunca mais havia voltado àquela casa. E no
mesmo momento em que se tornou Frei, D. Francisca vestiu uma túnica roxa que nunca mais largou.
Mas um dia Frei Dinis voltou a visitar a casa de D. Francisca. A filha e nora já haviam morrido e ela
estava apenas com os netos. Ela e Frei Dinis conversaram por longas horas. Era uma sexta-feira e a
partir dali todas as sextas-feiras Frei Dinis voltava a visitá-los. Não se intrometia na educação de
Joaninha, mas sempre se mostrou preocupado com Carlos. Queria saber tudo sobre ele e fazia
recomendações a avó. Nos meados de 1830, Carlos que se formara havia voltado de Lisboa. Era
uma sexta-feira e ele encontrou com o Frei Dinis que lhe fez algumas reprimendas. Carlos então
discutiu com o Frei dizendo que estava indo embora por não aceitar a intromissão dele na casa de
sua avó. Reforçou que sabia que havia algo de muito errado que ocorrera no passado. Frei Dinis
mostrou-se preocupado sobre esta possibilidade. Carlos contou suas intenções para a avó explicando
que estava envolvido com a causa liberal e que teria que emigrar, pois já havia demonstrado sua
opção em Coimbra e Lisboa. Partiu no dia seguinte para Inglaterra onde passou alguns meses e
depois se transferiu para a ilha Terceira. Na sexta-feira seguinte à partida de Carlos, Frei Dinis veio a
casa. Depois de uma longa conversa com D. Francisca ela chorou, trancada no quarto, por três dias
seguidos. No final do terceiro dia ficou cega. Joaninha nunca mais sorriu para o frade. Frei Dinis
envelheceu dez anos naquele dia. A partir daquele dia todos os dias foram tristes naquela casa.
Passaram-se então dois anos até a cena em que a história se iniciou como vimos no capítulo 11.
Capítulo 17
Passaram-se mais oito dias. D. Francisca e Joaninha estavam ansiosas a espera do frade para saber
notícias de Carlos. As duas aguardavam que o frei surgisse pelo mesmo caminho que o trazia de
Santarém todas as sextas-feiras. Mas sem notar chegou-lhes o Frei da direção de Lisboa assustando
as duas. D. Francisca perguntou-lhe de onde vinha tão tarde e ele respondeu que fora a Lisboa saber
notícias sobre a guerra. D. Francisca ficou apreensiva sobre notícias de Carlos, pois ouviram muitos
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rumores de momentos sanguinários da guerra. D. Francisca suplica ao Frei Dinis, pois pressente que
uma tragédia possa ter acontecido a Carlos. Frei Dinis irrita-se e blasfema contra Carlos dizendo que
não se importa com o que aconteça com ele. Mas em seu íntimo ele sente a mesma preocupação de
D. Francisca. Após uma discussão entre os dois passam-se longos minutos sem que nada se diga até
que Frei Dinis entrega a Joaninha uma carta que fora enviada por Carlos através do cônsul da
França.
Capítulo 18
Após entregar a carta a Joaninha o frade se despede dizendo que voltará na próxima semana para
saber a resposta. D. Francisca pede para que ele fique para escutar o conteúdo da carta. Ele reluta,
mas acaba ficando. Joaninha lê a carta apenas com os olhos. A avó pede que ela leia em voz alta
para que ela e o frei ouçam. Joaninha explica que a carta diz respeito apenas a ela. A avó pede que
leia assim mesmo. Carlos fala realmente apenas a Joaninha dizendo das suas saudades, de seu
amor fraterno pela prima e da pouca esperança no futuro. Joaninha leu a carta enxertando no final
um pedido de benção à avó. D. Francisca abençoa Carlos. Joaninha fica corada por ter mentido, mas
nota que Frei Dinis aprovou sua atitude de compaixão para com a avó. Frei Dinis foi embora para
Santarém. As duas se abraçaram chorando sem falar nada sobre a carta. A avó havia notado a
fraude de Joaninha. Na semana seguinte frei Dinis voltou e encaminhou a carta de resposta a Carlos.
Soube-se que ela chegou ao destinatário, mas semanas, meses, se passaram e não chegou mais
nenhuma carta. A guerra evoluiu os liberais haviam tomado Lisboa e os absolutistas tentavam
retomar a capital. Frei Dinis chega ao vale. D. Francisca estava só. Perguntou notícias ao frade. Frei
Dinis conta que estava difícil conseguir notícias de Lisboa, pois as tropas absolutistas cercavam a
cidade. D. Francisca roga que a vitória esteja do lado daqueles que estiverem com a razão. Frei Dinis
alega que os dois lados estão errados. Ela pede então que vença o Carlos. Frei Dinis diz que se
Carlos for vitorioso virá para destruir seu convento e que ele estará lá para defendê-lo cabendo a
Carlos a obrigação de matá-lo. D. Francisca defende Carlos dizendo que o neto não seria capaz de
tal feito. Frei Dinis alega que Carlos o odeia e que ele sabe do seu passado. D. Francisca garante
que Carlos sabe apenas meia verdade sobre o passado, mas que assim que ela o encontrar irá
contar-lhe tudo. Frei Dinis ameaça de amaldiçoá-la caso ela cumpra o prometido, pois Carlos
passaria a desprezá-los.
Capítulo 19
Joaninha surge sobressaltada gritando para a avó que vinham muitos homens e mulheres, soldados
e povo. Era a retirada de 11 de outubro. Frei Dinis diz que já pressentia que os constitucionais
venceriam a guerra. Alguns feridos ficaram na casa de D. Francisca para serem tratados. D. Miguel
seguiu para Santarém e os constitucionais montaram seu quartel-general no Cartaxo. Estabelecidos
os exércitos Frei Dinis ficou preocupado de deixar D. Francisca e Joaninha a mercê do exército. Quis
levá-las a Santarém. D. Francisca insistiu que não sairia de sua casa e se preciso morreria ali. Frei
Dinis entendeu que ela alimentava a esperança que Carlos voltasse e não insistiu em levá-las, pois
internamente nutria a mesma esperança. Joaninha ganhou o respeito e o carinho dos soldados. Não
se ouviu mais notícias de Carlos. Passaram-se meses. A guerra parecia ter arrefecido. Os soldados
das duas vertentes já se conheciam e trocavam opiniões sobre o país. Joaninha também se
acostumou. Acompanhava os toques de alvorada e de retretas de sua janela. Aquela janela que
chamou a atenção do autor nos capítulo 10. Era acompanhada dos rouxinóis que cantavam ao pé da
janela. Os soldados a apelidaram de menina dos rouxinóis. Ela passou a circular livremente entre os
dois exércitos. Costumava passear por entre um grupo de álamos e oliveiras que ficavam mais ao sul
perto de onde se postavam as sentinelas dos constitucionais. Um dia ela adormeceu entre as árvores.
Era tarde e os soldados estavam sendo postos em sentinela por um novo oficial que chegara de
Lisboa como reforço. Ao avistarem Joaninha o oficial pediu cuidado aos soldados que logo
reconheceram a moça. Um dos soldados mais antigos falou que se tratava da menina dos rouxinóis.
O oficial quis saber mais sobre a moça e foi-lhe mostrada a janela da casa onde ela morava. O oficial
ordenou que todos se afastassem e se aproximou da moça.
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Capítulo 20
Joaninha dorme e junto dela está um rouxinol. O oficial se aproxima. O autor conversa com as leitoras
e antecipa que elas querem saber mais sobre este oficial. Reforça que este é um dever do
romancista. Faz um relato sobre o oficial dizendo que ele tem aproximadamente 30 anos. Chegou
perto da moça e reconheceu nela Joaninha apesar de achá-la diferente. Beijou-lhe a mão fazendo-a
acordar. Joaninha reconheceu que era Carlos. Falou que sonhara que ele havia morrido. Fica muito
feliz em vê-lo. Carlos pergunta se ela estava realmente sonhando com ele. Joaninha responde que
sempre sonha com ele. Abraçaram-se e beijaram-se. Joaninha não se continha de tanta felicidade.
Falava sem parar. Voltou a dizer que sonhara com a morte de Carlos. Ela e a avó. Cai em si e
pergunta como os dois estão sozinhos ali naquela hora. Preocupa-se com o que os outros falariam se
os vissem sós. Lembra de levar Carlos à avó. Pensa em ir à frente para prepará-la, lembra então que
ela está cega. Carlos se assusta, pois não sabia da cegueira da avó. Joaninha começa a relatar como
ocorreu, mas resolve deixar para falar depois. Pega Carlos pela mão para levá-lo para casa.
Capítulo 21
Os dois estavam tão felizes do reencontro que se esqueceram que estavam no meio de uma guerra.
Foram lembrados pelo brado das sentinelas que ao verem os vultos perguntaram: quem vem lá?
Carlos abraçou Joaninha e lembro-lhe que a guerra os afastava. As sentinelas perguntaram
novamente agora engatilhando suas armas. Joaninha sentindo o perigo pede a Carlos que se
apresente as suas sentinelas. Ele fica preocupado com ela, mas Joaninha o tranqüiliza dizendo que é
bem quista pelas sentinelas absolutistas. Ela se apresenta e os soldados sentem-se aliviados e
sorriem por ser a menina dos rouxinóis que se apresentava. Joaninha despede-se de Carlos e pede
para que se encontrem no dia seguinte. Carlos pede para que ela não conte para sua avó que esteve
com ele. Joaninha afastou-se em direção a casa. Carlos ficou observando-a. As sentinelas
constitucionais atiraram nele. Ele apresentou-se. Joaninha ouvindo o tiro perguntou o que acontecera.
Carlos disse que não fora nada e que estava tudo bem. Não culpou os seus soldados, pois eles
estavam obedecendo ordens, ele é que havia errado em não se apresentar. Os soldados ao ouvirem
o grito de Joaninha fizeram o comentário que o capitão nem bem chegara e já estava as voltas com
mulheres. Um dos soldados explicou que Carlos era dali e que a moça era sua prima, a menina dos
rouxinóis. Fizeram uma relação das mulheres com quem o capitão estivera dizendo que todas eram
loucas. Ficaram na dúvida se era prima ou irmã. Alguém lembrou que existia um frade ligado à
família. Um dos soldados disse que quase atirou no frade. Outro lembra que quase mataram o
capitão e que se o frade fosse pai ou tio do capitão poderiam ter causado um problema.
Capítulo 22
Joaninha envia uma carta a Carlos onde conta que manteve o acordo de não contar à avó que
estivera com Carlos. A avó estava muito adoentada e, para aliviá-la, Joaninha disse que recebeu
notícias que Carlos estava bem. Pede a Carlos que não adie por muito tempo o encontro com a avó,
pois teme pela sua saúde. Marca um novo encontro no mesmo local. Carlos havia passado a noite
apreensivo. Pensava no quanto ele lembrava de Joaninha e a vontade de vê-la novamente, mas a
imagem que tinha da prima era de uma menina e não de uma mulher. A sensação que Carlos sentiu
ao ver joaninha foi nova não sabendo explicar se era amor. Mas ele já havia amado outras vezes e
ainda mantinha uma relação de amor com uma outra mulher da qual guardava um talismã. Carlos
estava confuso entre os sentimentos que nutria pelas duas mulheres. O autor interrompe para nos dar
sua versão dos fatos. Segundo ele Carlos estaria apaixonado por Joaninha apesar de estar também
apaixonado por esta outra mulher. O autor nos adianta que o nome desta outra mulher é Georgina e
que falará dela mais tarde. Pede que as leitoras perdoem Carlos pelas suas dúvidas. Carlos havia
passado a noite em claro abalado pela reação que teve ao abraçar e beijar Joaninha. Mas de manhã
ele já havia pensado o suficiente para sentir confiança no amor que sentia por Geogina. Pretende
encontrar com Joaninha no horário e local marcados.
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Capítulo 23
O dia custa a passar e Carlos começa a refletir novamente. Todas as ponderações da noite lhe
voltaram ao pensamento. Para o autor, os tormentos causados pelo pensamento, fazendo com que a
pessoa sonhe acordada, é tratada pela ciência como nervosismo, para o romantismo sensibilidade e
para o conhecimento popular de loucura. Carlos tinha tudo isso. Entre os pensamentos de Carlos
estava agora a imagem de sua avó. Ele lembrou que Joaninha havia dito que ela estava cega e que
havia um mistério por trás deste fato. Carlos pensa também em Frei Dinis que ele considera um peso
na vida da avó. Pondera se Joaninha sabe alguma coisa sobre o passado da avó e de frei Dinis. Ele
lembra que foi sua certeza de que um crime fora cometido pelos dois que o fizeram sair de casa. Fica
imaginando se Joaninha sabe o mesmo que ele. Pensa em desfazer qualquer pensamento neste
sentido mesmo que tenha que mentir para Joaninha. Pensa em não mais ver a avó. Procurou se
ocupar de afazeres militares para acalmar o espírito. Mas o dia era longo e voltou a pensar. Pensou
agora nas mulheres que amava. Em uma visão nebulosa ora apareciam os olhos de Soledade, ora de
Georgina e ora de Joaninha. Pensou em dizer a verdade para Joaninha. O autor aparece novamente
para nos dizer que Carlos era poeta e introduz um poema que não segue os padrões formais rígidos
da poética. Apresenta um longo poema onde o tema principal é a cor dos olhos dos amores de
Carlos. O autor nos diz que não se formulam em palavras os pensamentos poéticos e que coube a
ele fazer uma fotografia mental de Carlos para apresentar o poema. Faz uma nova digressão sobre
os poetas criticando a escola clássica.
Capítulo 24
O autor fala dos homens tendo Adão como o modelo da criação. Fala de seus desvios que o fizeram
ser expulso do paraíso. Critica a sociedade criada pelo homem que o torna um ser vil. Cita Carlos
como um homem bom, muito parecido com Adão, mas que como todo homem tem os seus defeitos.
Carlos estava quase como os demais homens, ainda era bom e verdadeiro no primeiro impulso mas
a reflexão o descia a vulgaridade da fraqueza, da hipocrisia e da mentira comum. Era um homem
como os outros homens. Cheio de dúvidas e incertezas foi ao encontro de Joaninha. Ela notou que
Carlos estava diferente do dia anterior. Joaninha elogia a beleza de Carlos e diz que já o via assim
em seus sonhos. Carlos ao contrário sonhava com Joaninha sempre menina risonha e brincalhona.
Joaninha lhe disse que nunca mais sorrira depois de sua partida e que naquele vale a tristeza tomara
conta. Disse que não gosta de Frei Dinis, mas que acredita que ele nutre um carinho por sua família.
Principalmente por Carlos que trata como um filho. Carlos alega que ele precisa do perdão de Deus.
Joaninha concorda que ele tenha sobre si um grande pecado. Carlos se impressiona com a alegação
de Joaninha e quer saber que pecado é esse que Joaninha conhece. Ela relata então que foi Frei
Dinis o responsável pela cegueira da avó. Que ele a culpava por Carlos ter se desviado do caminho
da religião. Ela diz que Frei Dinis sufoca sua avó com seu Deus de terrores, que Frei Dinis vê pecado
em tudo. Carlos fica aliviado, pois vê que Joaninha não sabe a verdade sobre o pecado que ele
imagina saber sobre o Frei Dinis e sua avó. Joaninha conta que o Frei continua visitando sua casa
todas as sextas-feiras e que no dia seguinte será sexta-feira e que, portanto eles não poderão se ver.
Ela cobra de Carlos uma data para ele encontrar com a avó. Carlos alega que por motivos da guerra
ele não pode se aproximar da casa. Joaninha conta que é bem quista pelo comandante do exército
absolutista e que ele sabe que ela está se encontrando com um parente. Carlos pergunta sobre a
idade deste comandante. Joaninha pergunta se ele está bravo. Diz que quando ele franze a testa fica
parecido com Frei Dinis. Carlos beijou a mão de Joaninha e os dois ficaram com os olhos marejados.
Capítulo 25
Carlos e Joaninha ficaram por longo tempo de mãos dadas olhando-se sem nada dizer um ao outro.
Enfim, Joaninha falou novamente que no dia seguinte o Frei viria. Carlos pediu para que a prima não
contasse nada a Frei Dinis. Joaninha garantiu que não falaria nada mas insistiu em saber quando
poderia falar com a avó. Carlos deu a desculpa que precisaria de ordens de Lisboa para não incorrer
em crime de guerra. Disse também que não sabia quantos dias precisaria. Joaninha pediu para
encontrá-lo todos os dias, excetuando-se as sextas-feiras, dias de visita do Frei. Carlos jurou que a
veria todos os dias; Joaninha insistiu perguntando se não havia nada que os impedisse de se
encontrar. Carlos hesitou por um momento dizendo que havia apenas um motivo, mas não quis dizer
qual. Joaninha insistiu e Carlos respondeu que seria se o seu comando o proibisse. Joaninha não
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acreditou na desculpa de Carlos. Joaninha confessa a Carlos que o ama. Carlos por um momento
pensou em abraçá-la, mas freou seu impulso. Trocaram juras de amor. Carlos perguntou se Joaninha
estava certa sobre o seu sentimento. Ela reafirmou e disse que já havia contado à avó seu amor por
Carlos e que a avó havia ficado muito feliz. Despediram-se. Carlos disse que falaria no próximo
encontro. Joaninha suspeitou que Carlos não a amava e que seu coração estava destinado à outra
mulher. Ao se despedirem Carlos perguntou se Joaninha acreditava que ele pudesse enganá-la. Ela
respondeu que não. Os dois foram cada qual para o seu lado. A partir daquele dia os dois eram
outros.
Capítulo 26
O autor diz que se for a Roma pretende levar consigo um livro de Tito Lívio e de Tácito. Que estando
sentado ali poderia entender melhor a história escrita por estes grandes autores. Sugere ao leitor que
pegue suas crônicas e vá a Santarém e leia diante dos monumentos a história contada por ele.
Relata que faz isso com freqüência que só entendeu Sheakespeare quando o leu em Warwick ao pé
do Avon, debaixo de um carvalho secular. Relata o caso de um inglês que chegou a Paris e foi
conferir no túmulo de Heloísa e Abelardo e lendo as cartas de Paracleto sentiu-se o próprio Abelardo
e saiu gritando por um cônego que lhe acudisse. Diz que não chega a se impressionar tanto quanto o
referido leitor. Lembra de uma outra passagem em que estando em seu quarto pôs-se a ler Os
lusíadas de Camões. De sua janela pode ver o Tejo e passou a se sentir na Portugal que ele entende
como a verdadeira Portugal. Pergunta-se então o que esta digressão tem a ver com a sua obra e
defende que tem tudo. Defende que se lermos uma obra no local que a inspirou vamos entender
melhor esta obra. Diz que foi importante ter ficado no vale a ouvir e relatar a história da menina dos
rouxinóis, mas que agora vão continuar viagem para Santarém. E nos avisa que a história de
Joaninha não terminou, mas que haverá uma mudança de cenário para Santarém.
Capítulo 27
Ao final do dia chegam a calçada que leva ao alto de Santarém. Fala sobre os olivais de Santarém e
a sua importância histórica. O autor diz-se feliz por ainda encontrar ali os olivais que apesar de
estragados como tudo que viu ainda é um monumento. Chegam a entrada da Vila. Vários
monumentos são vistos. Mas a cidade parece abandonada. Começa a enumerar os monumentos. À
esquerda o convento do Sitio de Jesus, o das Donas, o de S. Domingos onde jazem os restos de S.
Frei Gil tido como o Fausto português por ter sido bruxo. Defronte está o mosteiro das claras. Ao pé
estão as baixas arcadas góticas de S. Francisco de cujo último guardião foi Frei Dinis. À direita o
Colégio Jesuíta de arquitetura filipina. O autor chama a atenção para a disposição dos edifícios que
foram construídos para mostrar o poder que era exercido em cada momento da história. Por isso
estão frente a frente monumentos de religiões diferentes. Entram nos muros de Santarém. As igrejas,
as muralhas e algumas casas mantém a fisionomia antiga mas as demais casas apesar de velhas
perdem a relação com a sua origem. Seguem com destino a Alcáçova. Na ponta da antiga cidadela
uma confusão de entulhos e caliça e a falta de uma estrada vão dificultar o caminho da casa do
amigo dos viajantes.
Capítulo 28
Depois de muito procurar pela Igreja de Santa Maria de Alcáçova e diante do estado em que se
encontram, os viajantes não se conformam com o que vêem. A igreja havia passado por várias
reformas estando totalmente descaracterizada o que irrita o autor que critica a forma com que os
monumentos são descaracterizados. Critica o Marquês de Pombal responsabilizando-o por ter
adotado o estilo de Luiz XV. Encontram a entrada e são recebidos pelo Sr. M. P.. Fazem as abluções
e vão jantar. Conversam sobre política, literatura, Santarém e as suas ruínas e depois vão dormir. Ao
acordar, o autor vai a janela de seu quarto e encanta-se com a vista. Faz uma descrição da paisagem
como se pinta um quadro. Recorda-se dos versos da introdução do Fausto de Goethe. Apresenta
alguns versos e diz não se atrever a continuar com a sua tradução por achar que a língua portuguesa
não dá conta de traduzir a língua alemã.
46
Capítulo 29
Um pensamento sobre o sonhar acordado e o fazer poético. O autor faz uma comparação entre os
escritores que produziam pelo sentimento e os que escreviam pela imaginação. Aos primeiros a
morte chegou cedo, pois segundo o autor o sentimento desgasta a vida. Aos que trabalham com a
imaginação não existe este desgaste e, portanto eles viveram por mais tempo. Aos primeiros ele cita
Byron, Schiller, Camões e Tasso. No segundo grupo estão Homero, Goethe, Sófocles e Voltaire. O
autor explica que escreve aquilo que pensa e aquilo que sente. Questiona se o leitor esperava outra
coisa dele e já se desculpa por não ter feito uma obra de viagem. Caso os leitores esperassem dele
uma descrição marco a marco as léguas da estrada, palmo a palmo a altura dos edifícios, algarismos
por algarismos as datas da sua fundação, sugere que procurem ao Padre de Vasconcelos que nele
encontrarão o que procuram. Ressente-se apenas por não ser bom desenhista, pois acha que seria
mais fácil descrever a viagem através dos traços de que pela literatura. Para ele Santarém é um
grande livro de pedra. Que os monumentos contam sua história, mas que infelizmente o povo e o
governo vem destruindo esta história. Ouve chamarem para o almoço. A conversa durante o almoço é
Santarém e os vultos que ali estiveram. D. Afonso Henriques, S. Frei Gil, o Alfageme, el-rei D.
Fernando e Rainha D. Leonor, Camões, Frei Luís de Sousa, Pedro Álvares Cabral , os Docems,
grandes figuras da historia de Portugal. Também falaram de Santa Iria. O autor lembrou que existem
duas versões para a história de Santa Iria, uma de cunho popular e outra monástica. Ele termina o
capítulo contando a versão popular.
Capítulo 30
O autor nos faz saber que Santa Iria, também Santa Irene, é que originou o nome de Santarém.
Donzela, natural da Nabância era freira no convento beneditino. Enamorou-se por ela Britaldo, filho
do cônsul Cristinaldo que governava a Nabância. Ela não lhe retribuía o amor e como Santa não
podendo ver-lhe sofrer foi a seu encontro e o curou. Mas o monge Remígio também se encantou por
Iria e não sendo também correspondido resolver se vingar. Deu a ela uma poção que fez com que os
sintomas de uma gravidez aparecessem. Britaldo sentiu-se traído e mandou matá-la. Seu corpo foi
jogado no rio e seguiu até as margens do Tejo onde foi sepultado. Tendo o Abade do convento uma
revelação de toda a verdade, comunicou ao povo da Nabância. Foram todos ao rio. Chegando ao
local do túmulo benzeram o rio que se abriu para que eles pudessem alcançar o corpo. Mas como
não puderam tirá-lo dali entendeu-se que se tratava de um milagre e todos voltaram a sua terra. As
águas tornaram-se a juntar e só se abriram novamente seis séculos e meio depois quando a Rainha
Santa Izabel, mulher del-rei D. Dinis fez tão fervorosa oração. Entraram o Rei e a Rainha no rio, mas
por mais esforço que fizessem não conseguiram abrir o túmulo. O rei então ordenou que se erguesse
um padrão tão alto que cheia alguma o cobrisse. Passados mais três séculos e meio, a Câmara de
Santarém mandou refazer o dito marco e colocar sobre ele uma estátua da Santa Iria. Esta é a
história contada pelos frades. O autor reconta a história popular que ele já havia reproduzido a letra
da cantiga no final do capítulo anterior. A Santa está em casa de seus pais: um cavalheiro
desconhecido, a quem dão pousada uma noite, levanta-se por horas mortas, rouba a descuidada e
inocente donzela, foge a todo o correr de seu cavalo, e chegando a um descampado dali muito longe,
pretende fazer-lhe violência... A santa resiste, ele mata-a. Dali a anos passa por ai o indigno
cavaleiro, vê uma linda ermida levantada no próprio sítio onde cometeu o crime, pergunta de que
santa é, dizem-lhe que é Santa Iria. Ele cai de joelhos a pedir perdão à santa, que lhe lança em rosto
o seu pecado e o amaldiçoa. Assim termina a história. O autor questiona qual seria a história mais
correta. Se o povo reduziu a uma história mais simples ou se foram os monges que a aumentaram
em suas escrituras. O autor faz ainda algumas considerações sobre a estrutura formal da cantiga,
versão popular da história.
Capitulo 31
Passado das dez horas da manhã, os viajantes saíram para visitar a cidade. O autor novamente nos
lembra que a história está escrita nas ruínas e monumentos. Passam pela Igreja de Alcáçoba que se
encontra fechada. Seguem pela esquerda onde vêem portas e janelas que o autor identifica como
estilo moçarabe e que não combinam com as edificações em que estão colocadas. Chegam a porta
do Sol um mirante onde a vista é bela, mas melancólica. Ali teria sido o local escolhido para
execuções em tempos antigos. O autor fica pensando se não seria ali que Frei Dinis teria estado para
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lamentar o resultado da guerra. Neste momento o companheiro de viagem que iniciou a história da
Joaninha aproxima-se e sugere que eles sentem ali para ouvirem o final da história. Agora o autor
promete aos leitores que não irá mais entrar em digressões e que a história será contada de forma
direta até o seu final.
Capítulo 32
O autor recorda ao leitor o que se passou no final do capítulo 25 de onde retoma a história. Tinham
Carlos e Joaninha se despedido tristes e duvidosos. Naquela noite um grande movimento de guerra
reinava nos postos dos constitucionais. Carlos apresentou-se ao quartel general recebeu ordens para
partir para um ataque onde poderia encontrar com a morte. Devido às confusões que lhe abatiam,
Carlos já contava com a possibilidade de uma morte digna que o livraria de suas angústias. Armou-se
e foi para o combate. Uma grande batalha sucedeu-se. Ao final do dia Carlos dava entrada em um
hospital de Santarém crivado de balas. Foi atendido junto aos outros feridos. Guardava seguro na
mão esquerda um talismã que não largava por nenhum motivo. Adormeceu. Quando acordou estava
em uma cela do convento de S. Francisco. Tinha por enfermeira uma jovem bonita de rosto oval,
cabelos louros e anelados e os olhos azuis. Acompanhava da porta de sua alcova o Frei Dinis. A
cada movimento de Carlos ele se recolhia para não ser notado. Carlos acordou e reconheceu
Georgina. Carlos fica sabendo que está prisioneiro no Convento de S. Francisco, mas que assim que
ele se curar ela irá ajudá-lo a livrar-se. Carlos perguntou pela sua família. Georgina contou que eles
estavam também em Santarém e que assim que ele estivesse fora de perigo iria vê-los. Carlos estava
fraco, foi medicado e adormeceu. Passaram dias e semanas nas quais Carlos foi aconselhado a não
falar para não agravar sua saúde. Um dia Georgina pode lhe dizer que já estava fora de perigo e que
iria rever sua avó e Joaninha.
Capítulo 33
Georgina diz a Carlos que não o ama mais. Ele fica desolado e questiona os motivos que a levaram a
não mais amá-lo. Faz juras de amor a Georgina e diz que vai padecer se não for mais correspondido.
Georgina pede que ele se acalme, pois está debilitado. Calmamente ela explica que realmente amou
muito a Carlos. Que todos os momentos que viveram foram verdadeiros. Carlos diz não entender
então porque ela não o ama mais. Georgina explica que depois que Carlos voltou para a Ilha Terceira
ela havia se resignado, mas mantinha por ele o amor. Sentia que da parte dele também existia este
amor. Recebia suas cartas e via nelas a verdade nas palavras de Carlos, mas quando ele voltou ao
vale, começou a notar que o sentimento dele estava diferente. As suas palavras não fluíam com tanta
naturalidade. Ela sentia que o estava perdendo e decidiu vir para Portugal para encontrar com ele. Ali
chegando encontrou-o ferido e junto dele estava Frei Dinis. Ela contou ao Frei quem era ela e qual a
relação que eles tinham. O frei trouxe-os ao convento onde ela passou a cuidar dele. Ficou próxima
da sua avó e de Joaninha. Carlos ainda tentou afirmar que amava Georgina. Ela contou então que já
sabia que Carlos estava apaixonado por Joaninha e que a prima também o amava. Já tinha se
comprometido a ajudar que os dois ficassem juntos. Carlos a princípio disse que não queria ficar com
Joaninha. Georgina questionou se ele queria trazer mais sofrimentos a sua família. À Joaninha, à sua
avó que o amava como mãe e ao Frei Dinis que o amava com todo o coração. Quando ele ouviu o
nome de Frei Dinis, ficou irritado e o amaldiçoou. Mal ele tinha pronunciado o seu nome, o Frei abriu
a porta da alcova e entrou na cela.
Capítulo 34
A cela estava meio escura. Carlos puxou a cortina que velava a luz que vinha de fora atingindo com
um raio solar os olhos do frade. Frei Dinis chegou para perto de Carlos e pediu para que ele não o
amaldiçoasse, pois ele vinha pedir-lhe perdão e dizer que o amava. Carlos ficou sem palavras. Ouviuse
um burburinho que vinha de fora do convento. Frei Dinis contou a Carlos que os constitucionais
haviam vencido, que o barulho que ouviam eram os absolutistas que evacuavam Santarém indo na
direção do Alentejo. Os constitucionais haviam vencido em Asseiceira e não havia mais nada a
acontecer a não ser o perdão que pedia a Carlos. Carlos estava com uma confusão de sentimentos
entre piedade, compaixão e ódio. Não se contendo ele acusou o padre de ter assassinado o seu pai e
de ter cegado a sua avó. Frei Dinis confirmou as suas suspeitas e pediu que ele o matasse. E
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abaixando-se implorou que ele lhe pisasse sobre a sua cabeça, pois já estava velho e seria fácil
matá-lo. Dizia que todos os anos de penitência não tinham lhe curado a culpa dos males que causou
a família de Carlos.
Capítulo 35
Georgina pede a Carlos que ele dê a mão ao frade e que o levante do chão e o perdoe. Carlos fica
impassível. Georgina pega na mão do frade e levanta o seu rosto e o trás para junto de si tentando
consolá-lo. Frei Dinis parecia uma criança. Georgina com a voz da sedução feminina pediu
novamente. Esse homem vai morrer, você não vai perdoá-lo, meu Carlos? Ao ouvir estas palavras
Carlos se rendeu e ajoelhando-se ficou abraçado a Georgina e ao Frade. Ficaram assim por muito
tempo sem dizer palavra alguma. Até que o Frei pediu com voz fraca que Carlos perdoasse também a
sua mãe. Carlos deu um salto chamando o Frei de Demônio e dizendo que iria matá-lo. Pegou um
velador de pau-santo e levou ao ar para desferir um golpe mortal no crânio do velho. Este apenas
estendeu a cabeça não mostrando resistência. No momento que iria se consumar este homicídio dois
gritos foram ouvidos. Eram a avó e Joaninha que entravam na cela. A avó dizia a Carlos que o Frei
era na verdade o seu pai. Carlos soltou o velador e caiu sem sentidos. Georgina o levantou e o
colocou sentado na cadeira. Uma ferida em seu pescoço havia aberto devido ao esforço e ele estava
todo ensangüentado. Joaninha e Georgina acudiram Carlos e fizeram um curativo para estancar o
sangue. Joaninha sentiu-se ameaçada com a presença de Georgina. Georgina lembrou o trato que
fizera com Joaninha despedindo-se e pedindo que ela cuidasse de Carlos. Disse que estava
sobrando ali, pois não precisava saber sobre os segredos daquela família. Pede para que ela console
a avó e o Frei que ela acha que não é criminoso. Joaninha alega que a avó já havia contado a
verdade para ela e que o Frei realmente não tinha culpa. Carlos murmurou sem abrir os olhos,
querendo saber a verdade. A avó contou que o Frei era na verdade o pai de Carlos e que sua mãe o
havia amado. Carlos perguntou qual o motivo que levaram o Frei a matar aquele que conhecia por pai
e o pai de Joaninha, seu tio. Frei Dinis respondeu que ele apenas se defendeu. Os dois homens se
uniram para lhe emboscar na charneca. Era noite e ele não viu quem o atacou. Ao se defender
acabou matando os dois homens e só ficou sabendo a sua identidade quando foi jogar os corpos no
rio. Era época de cheia e quando encontraram os corpos ninguém ficou sabendo o motivo da morte
dos dois. Mas Frei Dinis contou para a mãe de Carlos e esta morreu de desgosto e remorso. Não
satisfeito um dia ele contou para D. Francisca o que ocorrera e ela chorou lágrimas de sangue e
acabou ficando cega. Diante de todo sofrimento que causou esperava não viver o suficiente para
revelar toda a verdade a Carlos. Carlos então levantou o frade, colocou-o sentado na cadeira e
beijou-lhe a mão. Depois abraçou a avó que o apalpava e resmungava que já poderia morrer pois já
havia abraçado mais uma vez o neto que ela considerava como filho. Carlos saiu fazendo sinal que já
voltava, mas não retornou. Três dias depois chegou uma carta de Évora onde ele estava com o
exército constitucional.
Capítulo 36
Ainda não acabou a história da Joaninha. Não falta muito, nem pouco. O autor diz que vai acabar
logo, pois as gentes estão impacientes em saber. Querem saber que fim levou Joaninha, a avó, o
Frei, a inglesa e Carlos. Questiona se Carlos deve ser tratado como impuro ou digno de pena. Que
seu grande problema foi amar demais. Que o coração pode ser grande fisicamente ou moralmente. O
coração que é fisicamente grande causa a morte e o que é moralmente grande leva a morte dos
sentimentos. Segundo o autor Carlos padece do coração moralmente grande e prevê o seu fim com a
perda dos sentimentos. Só vê dois caminhos possíveis, a política ou a agiotagem. Diz que a maldição
maior é se for os dois; Deputado e Barão. Neste momento voltam à viagem e o final da história fica
para o dia seguinte. Encontram o Barão de P. que irá guiá-los. Foram a porta de Atamarma local onde
D. Afonso Henriques pôs fim ao domínio árabe em Portugal. O autor lamenta que a Câmara de
Santarém pretenda demolir este Monumento. Em cima do arco existe uma capela da Virgem da
Vitória que o autor coloca em dúvida se foi D. Afonso que construiu. Questiona a falta de
documentação sobre alguns monumentos. Crê que os frades croniqueiros deixavam de registrar
muitas coisas, pois achavam que não seriam modificados os monumentos pelos homens. Eles
visitaram a capela por dentro o que desanimou o autor profundamente, pois ela não guardava em
nada o aspecto de passado esperado por ele. Faz um grande lamento pelo abandono que deixaram
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Santarém. Como uma súplica faz um apelo à cidade de Santarém e a seus monumentos pedindo que
eles resistam aos descasos dos governantes. Faz um grande desabafo.
Capítulo 37
Passaram diante da Graça onde está sepultado Pedro Álvares Cabral, mas não puderam visitar o
túmulo, pois o responsável pelas chaves não se encontrava no local. Foram à casa do Barão de A.,
outro que segundo o autor não se encontra entre os barões assinalados, referência clara a Os
lusíadas. Seguiram com o Barão de A. para a cerimônia da exposição e ostensão do Santo milagre. O
autor faz uma pequena descrição da igreja e inicia-se a cerimônia. Sobem até o local onde se
encontra a âmbula que contém a partícula consagrada. Foram abençoados e puderam olhar a
relíquia de perto. O pároco contou que naquele mesmo camarim estavam os restos mortais de D.
Maria da Assunção, filha de D. João VI, que morreu em Santarém nos últimos anos em que o exército
absolutista ocupava a cidade. O corpo havia ficado mal embalsamado e estava causando doenças
aos freqüentadores da igreja. Pediu-se então ao governo que tomasse alguma medida, mas devido
ao desinteresse do mesmo o corpo foi sepultado em cova rasa sem nenhum distinção ou epitáfio. Era
mais um descaso com a história de Portugal. Depois da cerimônia foram visitar a casa em que se deu
o milagre. A casa havia sido transformada em capela, mas estava em estado de abandono.
Associado ao Santo milagre existia uma lenda do homem de botas. Na época da invasão francesa o
paládio escalabitano havia sido transferido para Lisboa para que não fosse roubado. Após a retirada
dos franceses o povo santareno começou a requisitar o retorno da relíquia. Preocupados com os
tumultos que poderiam acontecer durante o transporte foi espalhado um boato de que um homem iria
atravessar o rio Tejo utilizando apenas uma bota de cortiça não precisando de embarcação para isso.
Todos foram para a beira do rio ou para embarcações para esperar o feito. Enquanto isso, era
embarcado o Santo milagre rumo a Santarém. Os Lisboetas só ficaram sabendo do fato quando a
relíquia já havia chegado a Santarém e o povo festejava a sua volta. Os viajantes foram jantar à
Alcáçova.
Capítulo 38
Esperava por eles um belo jantar. Foram depois para a Ribeira. Procuraram em vão um local onde se
pudesse ter havido a tenda do Alfageme. Para o autor, a Ribeira foi mais decepcionante que
Santarém. Chegando novamente a Santarém ocorre um baile que não apetece ao autor. Apenas
admira pelo fato de reunirem-se tantas pessoas em uma cidade que ele tinha como quase deserta.
Fala-se sobre Lisboa e sobre Portugal. Discutem-se as coisas erradas e conclui-se depois que a
ausência de Lisboa parece fazê-la ficar mais atraente. Fala-se ainda das enfadonhas óperas do
Teatro Carlos Gomes e as apresentações dramáticas que são repetitivas e maçantes. Mesmo assim
a província não conta com estes recursos. Faz algumas digressões sobre o uso das palavras. Faz
mais críticas a sociedade diz que detesta a filosofia e a razão e termina o capítulo.
Capítulo 39
Explica o ceticismo colocado no final do capítulo anterior e faz mais algumas digressões sobre o
assunto. Fala novamente ao leitor. Volta à viagem. Diz que preferia o ócio a fazer mais descobertas,
pois o dia não está agradável para passeios. Preferia estar de volta ao vale para concluir a história da
Joaninha. Promete que irá depois, pois agora vai almoçar e continuar seus estudos arqueológicos.
Vão ao Colégio dos jesuítas. Questiona os motivos que não permitem a Santarém que mantenha
bons colégios. Questiona a centralização dos estudos em Lisboa deixando a província desprovida de
um bom colégio. Vão a S. Domingos. Fica impressionado quando a porta se abre e nota que acabara
de servir de palheiro. Encontra-se ali o jazigo de S. Frei Gil, que o autor chamou anteriormente de o
Fausto Português. Reforça que só existem os grandes vultos na literatura devido a existência dos
grandes escritores. Não existiria um Fausto sem o Goethe e um Agamêmnon sem Homero. Fala da
grande admiração que tem pelo S. Frei Gil e como ele concentrava-se apenas na história deste mago
quando na escola obrigavam-no a estudar a história de S. Domingos. As referências que tinha de
Fausto e a necessidade que vê de escrever uma obra onde S. Frei Gil apareça como protagonista.
Cita a pequena inserção que faz em Dona Branca. Vai a capela de S. Frei Gil e se desaponta
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novamente. O túmulo é totalmente sensabor e não faz jus ao grande homem que ali jaz. Ao chegar
perto do túmulo nota que ele foi profanado e questiona quem teria coragem de cometer tal sacrilégio.
Capítulo 40
Era noite e reinava a confusão em Santarém, três homens chegaram ao mosteiro das claras onde
foram abrigados pelas monjas. Os homens traziam uma urna contendo algo muito valioso talvez fruto
de um crime. Era o ano de 1834. Os liberais estavam espoliando os conventos dos franciscanos e
dos dominicanos. Toda a comunidade das claras acompanhou estes homens a uma capela entoando
um salmo que prenunciava a invasão dos templos. Fica-se sabendo que entre os homens, dois eram
frades dominicanos, e um, frade franciscano. Os mosteiros já haviam sido tomados pelos liberais e
para resguardar o corpo de S. Frei Gil que jazia no mosteiro de S. Domingos estes homens haviam
praticado um roubo. Profanaram o túmulo de S. Frei Gil para que não o fizessem os liberais. Sabendo
que o mosteiro das claras não seria invadido pediram para que as monjas protegessem os restos
mortais de S. Frei Gil. Ninguém ficou sabendo, apenas o autor que guardou segredo. Agora que os
tempos são outros, diz que pode revelar o segredo. Faz nova crítica aos barões.
Capítulo 41
O autor dá crédito ao leitor dizendo saber que ele reconheceu Frei Dinis no capítulo anterior como
sendo um dos frades que roubou o corpo de S. Frei Gil. Chega ao convento de S. Francisco. Diz que
já se interessa mais pelo final da história da Joaninha do que dos monumentos de Santarém. Se diz
cansado de Santarém e que quer ir embora pois não suporta mais ver o descaso com a história de
Portugal.
Capítulo 42
Novamente se diz desolado com o descaso e com as profanações. Quer ir embora mas lembra-se de
visitar o túmulo do rei Fernando. Fica novamente decepcionado pois encontra o túmulo profanado.
Critica o povo de Portugal por não ter mais religião e ter se tornado materialista e faz uma previsão de
que Portugal não durará mais 10 anos se os barões continuarem mandando. Finaliza com uma
reflexão de que Jesus que sempre foi tolerante, perdeu a paciência quando viu os vendilhões em
frente do templo.
Capítulo 43
Sai de Santarém. Passa pelo vale. Encontra D. Francisca e o Frei Dinis na frente da casa. Pergunta
sobre Joaninha. Frei Dinis diz que Joaninha está morta. Pergunta sobre Carlos. Frei Dinis pergunta o
que ele sabe. Diz que conhece toda a história até a partida de Carlos. Frei Dinis entrega a ele a carta
de Carlos para que ele leia.
Capítulo 44
Carlos escreve a Joaninha para explicar a ela porque ele não a merece. Começa contando a história
dele depois que foi embora da casa da avó. Foi para a Inglaterra onde relacionou-se com uma família
elegante e rica. Que em princípio estranhou os hábitos daquela família mas que depois acostumouse.
Havia três meninas naquela família. Ele passou a gostar das três mas acabou se apaixonando por
uma delas. Laura, a segunda em idade.
Capítulo 45
Faz uma descrição de Laura. Declarou-se para ela num passeio mas ela não respondeu. No dia
seguinte a irmã mais velha de Laura, Júlia, o chamou para conversar. Faz uma descrição de Júlia. Os
dois ficam sós.
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Capítulo 46
Júlia diz a Carlos que Laura também o ama mas que não pode ficar com ele pois já está
comprometida. Diz que Laura irá se casar dali a três meses e que irá para a Índia. Carlos sente uma
grande dor pede para falar com Laura. Júlia traz Laura e os dois conversam. À noite partem para uma
estalagem de onde Laura partirá para o País de Gales e lá ficará esperando até a data do casamento.
Carlos relata que durante a viagem era em Joaninha que ele pensava. Diz que julga-se um monstro e
que está espantado consigo.
Capítulo 47
Chegam a estalagem onde despede-se de Laura. Carlos sente-se aliviado. O pai de Laura chega de
uma excursão de Londres e pede para que Carlos cuide de suas duas filhas pois vai encontrar-se
com Laura no País de Gales. Carlos fica três dias sem aparecer. Quando volta Júlia fica alegre.
Mostra para Júlia as cartas que escreve para Laura. Júlia passa a ser correspondente entre Carlos e
Laura. Carlos diz a Joaninha que a ama. Carlos vai para Londres para que Laura se case. A pedido
de Júlia volta a Shire.

Capítulo 48
Ao voltar a Shire Carlos encontra Georgina. Apaixona-se por ela. Três meses se passam. Carlos vai para o Açores. Conhece Soledade mas diz que não a amou. Volta a Portugal e diz a Joaninha que a partir daí ela já sabia a continuação da sua história. Diz que ao vê-la novamente, notou que sempre foi ela que amou. Diz que não pode e não deve amar mais ninguém. Pede a Joaninha que cuide da avó e de Frei Dinis e despede-se dela para sempre.

Capítulo 49
O autor entrega a carta a Frei Dinis. Este conta que Joaninha enlouqueceu e morreu no colo da avó e de Georgina. Georgina virou abadessa em Shire e a avó de Joaninha, após a sua morte, ficou em estado mórbido conforme ele estava vendo em sua frente. E Carlos virou barão e logo entraria para a política. Fizeram algumas discussões sobre o fato dos barões terem sucedido os frades e o prejuízo para Portugal. O autor segue viagem para Cartaxo onde encontra com seus companheiros de viagem. Dormem ali e no dia seguinte seguem para Lisboa. Termina a viagem e o livro. O autor mostra o apreço que tem pelas viagens que faz em sua terra e jura que não irá viajar nas estradas de ferro dos barões.

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